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just keep swimming

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23
Ago21

25. assertividade

mar

Se há coisa que me irrita é a falta de tato, de sensibilidade. Incomoda-me o facto de as pessoas dizerem o que bem lhes apetece sem pensarem, primeiro, no modo como a sua mensagem vai ser recebida pelo outro. Sem terem o cuidado de prever se o modo ou o conteúdo não poderão ser mal interpretados, difíceis de digerir e até se valem ou não a pena.

Facilmente se cai no erro de achar que ser sincero ou honesto é uma virtude sem limites, confundindo-se muitas vezes sinceridade com brutalidade. Creio que se pode dizer tudo, mas é preciso saber como o fazer e, quando não se sabe, é preferível estudar primeiro a estratégia do que avançar sem rodeios.

Lembro-me de duas situações destas que aconteceram comigo. Uma delas foi um comentário simplesmente desnecessário, que não me afetou pelo seu conteúdo, mas que me fez pensar que a pessoa perdeu uma excelente oportunidade para ficar calada. Ter a necessidade de elogiar alguém comparando com outra pessoa, reduzindo essa em detrimento da outra, é, no mínimo, desnecessário e ridículo. Porque não elogiar alguém simplesmente pelas suas características? Por si? Sem ter de a comparar com outra? Creio que ambas ficam agradecidas.

Outra situação, essa sim, magoou-me pela falta de sensibilidade demonstrada. Uma conversa que mais se assemelhou a um monólogo (uma vez que a oportunidade de dialogar se tornou insustentável), onde a carta da honestidade prevaleceu como “vale tudo”. Mas não vale tudo. Fiquei magoada não pelo conteúdo, mas pelo modo como aquela pessoa teve a capacidade de me expor, de me fragilizar e tornar vulnerável pela forma como optou por introduzir e desenvolver o assunto. Só conseguia pensar, enquanto a ouvia, que só queria abrir um buraco no chão para me esconder. Haveria necessidade disso? Estou convicta que não, bastava a pessoa ter adotado uma outra abordagem e a conversa já seria totalmente diferente.

E isto acontece todos os dias, sobretudo se pensarmos nas redes sociais, que se tornaram um palco, um microfone para toda a gente impor as suas opiniões a qualquer custo, mesmo que isso signifique o bem-estar emocional de outra pessoa. Vivemos na era do vale tudo e isso é tremendamente assustador. 

Pessoalmente, quando não tenho nada de positivo para dizer, remeto-me ao silêncio. Se acredito que posso transmitir a minha mensagem sem ferir ou magoar, faço-o e procuro assegurar que fui bem interpretada. Tenho o cuidado de estudar muito bem como vou dizer determinada coisa, como vou contextualizar, como vou abordar o assunto. Se estou a navegar pela internet e me deparo com alguma coisa que não gosto, sigo o meu caminho, não perco tempo a destilar o meu desagrado. É tempo e energia que se perdem em vão. O mesmo acontece na vida real e física. Não invisto tempo em pessoas ou situação que não o merecem. 

Nos últimos tempos tenho refletido bastante acerca deste tema, porque tenho sentido vontade de responder a alguns comentários que ouço e não de forma tão simpática. E acho que neste tópico reside uma aprendizagem importante que está à espera que eu a adquira. É preciso ser-se assertivo na comunicação, seja como emissor como recetor. Muitas vezes não o ouço, fico-me pela passividade e ao fazê-lo, permito que o outro pense que pode dizer tudo que quiser, como bem entender. Se não estabelecemos os limites entre o aceitável e inaceitável, as pessoas consideram que tudo é válido, quando não o é. É aqui que preciso de investir a minha atenção, porque de certo modo, estou a contribuir para uma situação que não me agrada.

Nem sempre é fácil ser assertiva quando o faço em prol de mim mesma. Sei que não faz sentido, mas entre defender alguém e defender-me a mim mesma, a primeira opção é sempre a mais fácil, aquela que faço num abrir e piscar de olhos. Quando se trata de mim, tenho muita dificuldade em impor-me, em traçar as fronteiras e defender os meus interesses. Noto isto em pequenas coisas como, por exemplo, fazer um pedido de férias. É um direito que tenho, enquanto trabalhadora, mas sempre que peço um dia, sinto-me a morrer por dentro como se estivesse a pedir um favor à empresa. E com a necessidade de justificar, muitas vezes. Se alguém me responde mal, por exemplo, procuro amenizar a situação, em vez de dizer diretamente à pessoa que não são modos de falar com alguém. O meu quotidiano está cheio de exemplos onde me falta afirmação pessoal e a capacidade de me defender. Por um lado, sei que muita da minha passividade advém de não gostar de conflitos e estar sempre sintonizada na opção que assegura a maior tranquilidade possível. Não me importo de engolir um ou outro sapo se isso significar que as coisas se resolvem e todos ficam bem. Mas esta passividade também tem raízes mais profundas, assentes em crenças como "será que tenho o direito de me impor?", "será que tenho o direito de me chatear?", "será que não sou eu que estou a exagerar?". Existe sempre uma vozinha dentro de mim que me diz que não, que não tenho esse direito, que me inferioriza em comparação aos outros. Como se eu fosse menos e, como tal, não tenho o mesmo direito que os outros têm de expressar a sua insatisfação. 

E eu sei que nada disto é lógico, nada disto faz sentido e nada disto é real. Que é necessário contrariar este padrão que, de alguma forma, se formou e repete sempre nas interações sociais. É uma aprendizagem, é um processo, o que significa que não será do dia para a noite, não será rápido nem indolor. Mas em pequenos passos, consistentes, é preciso ir praticando e afirmar o meu valor. Fico orgulhosa quando sou capaz de me defender, com educação, com assertividade. Sinto uma descarga de adrenalina, não vou mentir, é algo estranho e que me deixa acelerada, mas no final, sinto sempre que vale a pena. E só lamento que as pessoas não façam este exercício de reflexão, pensando de que modo poderão estar a contribuir para situações da sua vida das quais não gostam. Porque há sempre uma quota parte que é da nossa responsabilidade, que podemos fazer de forma diferente e só assim poderão surgir resultados também diferentes. 

É a velha e sábia ideia de que só podemos mudar e controlar aquilo que pensamos, dizemos e fazemos. Tudo o resto é externo à nossa vontade e poder. Mas dentro de nós, aí sim, reside toda a nossa liberdade e potencial. 

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