3. Melofilia
Durante muitos anos, considerei que rock era o meu estilo de música. Vivi uma adolescência de phones nos ouvidos, com vozes estridentes e riffs de guitarras a bombar a todas as horas. Mais do que gostar de rock, eu sentia que toda a minha personalidade se alinhava com o estilo. Era uma expressão de quem eu era: explosiva, intensa, incontrolável. Isso associado aos meus caracóis fartos e ao meu estilo calça de ganga, tshirt e all stars post mortem permitiu-me construir uma identidade. Passava horas não só a ouvir música, mas também a ler sobre música. Tinha um fascínio gigante por ler letras de músicas e estuda-las, tentar compreender os significados escondidos, as referências, as métricas. Lia igualmente sobre as histórias de vida dos músicos que admirava e sentia-me inspirada a ser eu mesma. Claro que estava a viver a adolescência pura e dura, naquela época tudo isto tinha uma importância gigantesca na minha vida e levava muito a sério as minhas convicções. Cheguei a ter discussões acesas por temas tão sérios e importantes (só que não!) como ser team Axl ou team Slash. By the way, team Axl até ao fim!
Hoje, já numa outra fase, alguns anos volvidos, percebo que sou do mais eclético que existe no que diz respeito a música. Gosto um pouco de tudo, acho que há um momento para ouvir toda a música. Aliás, há momentos que exigem, por si só, um determinado estilo de música e apenas nesse contexto só esse tipo de música faz sentido. Sim, estou a referir-me aos Dança Kuduro típicos dos casamentos, que adoro, embora não perceba nadinha daquela coreografia e vá sempre para a esquerda quando é para ir para a direita, para a frente quando é para ir para trás, e bato sempre contra toda a gente. Estou a referir-me a um bom jazz quando estou a trabalhar e apenas quero ouvir instrumentos. Um bom pop quando estou no carro, a caminho do trabalho, para cantar e espantar todos os males! Um concerto de música clássica leva-me às lágrimas, de tanta emoção que provoca em mim. O rock liberta-me e faz-me sentir corajosa e capaz de tudo. Há a música de conforto, a música que embala a tristeza, a música que nos eleva o astral (para mim, Natiruts faz isso na perfeição), a música que nos esmaga pela sua beleza, a música que nos faz abanar o capacete e faz tão bem à alma e até a música para ouvir enquanto se passa a ferro ou lava a casa de banho.
Felizmente existe uma variedade imensa de estilos, bandas, artistas e músicas para cada momento e situação, para nos perdermos e, outras vezes, nos encontrarmos. Há espaço para tudo e todos e isso é maravilhoso.