44. let it be
Dias menos bons todos os temos, hoje é a minha vez. Não me sinto mal humorada nem zangada com o mundo; apenas me sinto triste. Estão a acontecer muitas coisas na minha vida, com as pessoas que mais gosto. E apesar de a minha atitude ser, por norma, focada nas soluções e "para frente é que é o caminho", quando me permito desacelerar, encontro-me com a tristeza de as coisas serem como são e não como eu gostaria que elas fossem.
Nas consultas, digo muitas vezes aos meus clientes que parar faz parte da viagem. Ajuda-nos a reestabelecer, a reunir energias novas, a definir o rumo e equacionar possíveis novas trajetórias. Costumo dizer-lhes que o importante não é chegar rápido, mas sim chegar longe. E agora sou eu que estou parada, a meio da minha viagem, a ganhar fôlego para continuar a minha caminhada. Esta tristeza abranda-me, imprime um ritmo mais lento, torno-me mais observadora do que participante, como se visse tudo de uma outra perspetiva.
E embora não goste de me sentir assim (creio que ainda não conheci ninguém que gostasse de se sentir triste), sei que é necessário dar espaço e tempo a esta emoção. Preciso de sentir esta tristeza que marca o início de uma nova etapa, um capítulo que termina e outro que se inicia. É preciso chorar a dor, acarinha-la, permita-la existir e ser. Esta letargia serve precisamente para acolher a minha tristeza e dar-lhe o colo que necessita.
Nem sempre é fácil não resistir às emoções negativas. Creio que não somos instruídos a aceitar a tristeza com a mesma naturalidade que aceitamos a alegria. A dor, o sofrimento, a raiva, a desilusão, o medo são sentimentos aos quais viramos, muitas vezes, as costas na esperança de que quando nos tornarmos a voltar, eles já não estejam lá. Mas eles não vão a lado nenhum enquanto não os abraçarmos e permitirmos.
Por isso, hoje é um dia menos bom e eu aceito-o. Não me esforço para que seja de outra forma, porque se há dias em que se deve investir em contrariar o mau génio, há outros em que é necessário liberta-lo. Hoje é um desses dias. E está tudo bem.