Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

just keep swimming

just keep swimming

23
Set21

48. it's never over

mar

Estou a ler (e a amar) o Before We Were Strangers da Renée Carlino, escritora que estou a conhecer pela primeira vez e, até agora, me tem surpreendido muito pela positiva. Estou completamente envolvida e absorvida nesta história e, como sempre, nas personagens. Acho que para mim o elemento que me faz apaixonar são sempre as personagens, as suas características, os seus percursos, as relações que criam entre si e o modo como se desenvolvem e transformam. Duas personagens bem construídas (muitas vezes até apenas uma!), fazem um livro, como Before We Were Strangers tão bem ilustra. 

Em Grace, uma das protagonistas, encontro muito de mim, de várias versões do meu "eu". Algumas mais recentes, outras passadas, mas é curioso como esta personagem parece uma compilação dos diferentes traços da minha pessoa ao longo destes 27 anos de vida. Desde as coisas simples, como amar Jeff Buckley (Lover, You Should've Come Over é a minha música favorita de todo o sempre, não há hipótese, sempre que os primeiros acordes começam, o meu coração contraí com mais força e tudo em mim paralisa), às mais complexas e imperfeitas como a dificuldade em ser vulnerável, em dizer aquilo que vai dentro de mim e a ânsia de querer sempre controlar o modo como as coisas vão acontecer.
Mas não é apenas Grace que me faz olhar ao espelho; é também a relação que cria com Matt, que me faz, inevitavelmente, viajar aos primeiros anos da minha relação. Aquela intensidade, a descoberta de um amor maior, gigante, que parecia ser demasiado para ocupar os limites do meu corpo e, como tal, transbordava, deixando um rasto por onde quer que eu passasse. O modo como me entreguei, como deixei a vida fluir, como peguei no meu coração, embrulhei e o ofereci ao meu namorado, sempre com medo que ele o fosse quebrar mas, ao mesmo tempo, confiante de que estava entregue nas mãos de alguém que olhava para mim como se eu fosse o sol, o mar, o céu azul e a natureza toda no seu esplendor mais bonito. 
A relação de Grace e Matt não é perfeita, assim como nenhuma alguma vez é, e as suas imperfeições relembram-me as nossas, por serem tão semelhantes. A dificuldade que sempre senti em abrir-me por completo e permitir-me ser vulnerável, expressar aquilo que me doía, o que não gostava e o meu namorado, do outro lado, sempre num exercício de paciência e resiliência, a tentar interpretar os meus silêncios e arrancar-me as palavras, em intermináveis jogos do sério, a ver quem cedia primeiro. O que esteve em causa nunca foi a confiança nele, mas sim a confiança em mim mesma e no meu valor enquanto pessoa. O acreditar, ainda que erradamente, de não ter direito a sentir determinados sentimentos; a censura de alguns pensamentos e a proibição de sentir e pensar tudo aquilo que poderia por em causa o sentimento dele por mim, acreditando que ao ver o meu lado mau, o bom não seria suficiente para compensar e, inevitavelmente, tudo quebraria. 
Mas só podemos amar alguém quando aceitamos tudo acerca de si, seja o bom, seja o mau. E isso é válido quando falamos acerca do amor que sentimos pelo outro, mas também pelo que sentimos por nós próprios. Quando temos liberdade para nos expressarmos e sermos quem somos, quando o outro nos permite esse espaço, nos respeita incondicionalmente nesse esforço contínuo de nos pormos no mundo tal e qual como somos, sabemos que é amor. E foi isso que nos aconteceu. Ele ensinou-me a dar pequenos passos em direção à aceitação, fez-me compreender que não ia a lado nenhum por eu ser quem sou e que esse núcleo, cheio de coisas boas e imperfeições, é o que o faz ficar bem perto e junto de mim. Eu alimentei-me dessa verdade e fui despindo todas as camadas que outrora construí, até que no final fiquei eu, apenas eu, exposta e vulnerável, com tudo aquilo que sou e trago comigo. E ele viu, apreciou, abraçou-me num daqueles abraços que valem mais do que mil palavras e que têm o poder de dizer tudo, sem ser necessário proferir um som ou verbalizar uma palavra. 
E é tudo isto que encontro quando me perco na leitura da história de Grace e Matt. Os seus encontros e desencontros, o modo como, por vezes, a vida se intromete no caminho, mas como aquilo que tem de ser encontra sempre o seu rumo. Como o amor nos transforma, nos fortalece e nos faz acreditar que tudo é possível. 
Ainda não terminei e estou naquele sentimento ambivalente, alternando entre o desejo e a ânsia de ler o livro até ao fim e a calma e prazer de saboreá-lo, aproveitando ao máximo estas personagens, a quem me vai custar dizer adeus. Estou a torcer, a rezar mesmo, para que este livro não me parta o coração. E, nos entretantos, perco-me a ouvir Jeff Buckley,  sabendo que não tornarei a ouvir uma canção sua sem pensar nesta história ... e, inevitavelmente, na minha, nossa. 
 

Sometimes a man gets carried away,
When he feels like he should be having his fun
Much too blind to see the damage he's done
Sometimes a man must awake to find that, really,
He has no-one...
So I'll wait for you... And I'll burn
Will I ever see your sweet return?
Oh, will I ever learn?
Oh, Lover, you should've come over
'Cause it's not too late.

 

Mais sobre mim

foto do autor

Arquivo

    1. 2021
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D

Pesquisar

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em destaque no SAPO Blogs
pub