A minha mãe preocupa-me. É a minha maior preocupação, aquela que faz com que todas as outras me pareçam pequenas e insignificantes.
A minha mãe é, neste momento, o retrato e exemplo perfeito de alguém a quem a vida pregou uma rasteira, a fez cair e ainda não foi capaz de se reerguer. Continua ali, estendida no chão, às vezes tentando levantar-se, outras vezes simplesmente à espera que alguém lhe dê a mão e a puxe para cima. Mas mesmo quando alguém lhe estende a mão e investe todos os esforços para a erguer, ela não é capaz de a amarrar e aproveitar, tornando a tombar e a cair.
A minha mãe está há tanto tempo no chão, que fez dele um lugar confortável. Está longe de o ser, mas é um lugar conhecido, familiar e que passou a ser suportável. Mudá-lo ou retirar-se dele já não parecem opções e, quando são, parecem improváveis, para não dizer impossíveis.
A minha mãe ainda é jovem, mas vive a vida de uma pessoa idosa. E creio que existirão pessoas de idade com uma vida mais dinâmica e preenchida do que ela. Olho para ela e o meu coração aperta-se de angústia. Uma dor fulminante, que me deixa à deriva, sem saber o que posso mais fazer. Uma culpa que surge de mansinho, mas que se faz notar, que me diz baixinho que não estou a fazer o suficiente. E, depois, uma revolta e fúria que ripostam e gritam "mas não é possível fazer mais, não é possível viver outra vida que não a nossa, não é possível ajudar quem deixou de acreditar!".
A minha mãe merece o mundo, é daquelas pessoas boas, sempre pronta e disponível para ajudar. Ela é aquela que, tantas e tantas vezes, estende a mão a quem está no solo, sem saber como se regressa à tona. Já viveu tantas agruras e conseguiu sempre encontrar um caminho, uma maneira de reescrever a história. Mas desta vez vejo-a completamente perdida, desamparada e, aquilo que mais me assusta, inerte e conformada. Sinto que se entregou às mãos do desespero e da desesperança.
A minha mãe preocupa-me. Sim, sei que já o disse, mas esta preocupação repete-se, transforma-se, aumenta. Não se extingue, não desaparece, não vai embora. Às vezes sinto que os papéis se inverteram e eu passei a ser a mãe que não dorme enquanto a filha não chega a casa, a mãe que sofre, que fica angustiada quando vê a filha sofrer, a mãe que, se pudesse, protegia a filha de todos os males do mundo.
Começo a ficar sem ideias, sem soluções. Não sei o que dizer, o que fazer, o que mais é possível e está ao meu alcance. Enquanto escrevo estas palavras, estamos no mesmo espaço, eu à mesa, ela no sofá, perdida num filme romântico qualquer da Fox Life, daqueles em que tudo acaba sempre bem. E eu gosto de acreditar que a realidade imita a ficção e que tudo também acaba sempre bem. Mas não consigo evitar pensar, quando é chegará esse momento?