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just keep swimming

just keep swimming

23
Set21

48. it's never over

mar

Estou a ler (e a amar) o Before We Were Strangers da Renée Carlino, escritora que estou a conhecer pela primeira vez e, até agora, me tem surpreendido muito pela positiva. Estou completamente envolvida e absorvida nesta história e, como sempre, nas personagens. Acho que para mim o elemento que me faz apaixonar são sempre as personagens, as suas características, os seus percursos, as relações que criam entre si e o modo como se desenvolvem e transformam. Duas personagens bem construídas (muitas vezes até apenas uma!), fazem um livro, como Before We Were Strangers tão bem ilustra. 

Em Grace, uma das protagonistas, encontro muito de mim, de várias versões do meu "eu". Algumas mais recentes, outras passadas, mas é curioso como esta personagem parece uma compilação dos diferentes traços da minha pessoa ao longo destes 27 anos de vida. Desde as coisas simples, como amar Jeff Buckley (Lover, You Should've Come Over é a minha música favorita de todo o sempre, não há hipótese, sempre que os primeiros acordes começam, o meu coração contraí com mais força e tudo em mim paralisa), às mais complexas e imperfeitas como a dificuldade em ser vulnerável, em dizer aquilo que vai dentro de mim e a ânsia de querer sempre controlar o modo como as coisas vão acontecer.
Mas não é apenas Grace que me faz olhar ao espelho; é também a relação que cria com Matt, que me faz, inevitavelmente, viajar aos primeiros anos da minha relação. Aquela intensidade, a descoberta de um amor maior, gigante, que parecia ser demasiado para ocupar os limites do meu corpo e, como tal, transbordava, deixando um rasto por onde quer que eu passasse. O modo como me entreguei, como deixei a vida fluir, como peguei no meu coração, embrulhei e o ofereci ao meu namorado, sempre com medo que ele o fosse quebrar mas, ao mesmo tempo, confiante de que estava entregue nas mãos de alguém que olhava para mim como se eu fosse o sol, o mar, o céu azul e a natureza toda no seu esplendor mais bonito. 
A relação de Grace e Matt não é perfeita, assim como nenhuma alguma vez é, e as suas imperfeições relembram-me as nossas, por serem tão semelhantes. A dificuldade que sempre senti em abrir-me por completo e permitir-me ser vulnerável, expressar aquilo que me doía, o que não gostava e o meu namorado, do outro lado, sempre num exercício de paciência e resiliência, a tentar interpretar os meus silêncios e arrancar-me as palavras, em intermináveis jogos do sério, a ver quem cedia primeiro. O que esteve em causa nunca foi a confiança nele, mas sim a confiança em mim mesma e no meu valor enquanto pessoa. O acreditar, ainda que erradamente, de não ter direito a sentir determinados sentimentos; a censura de alguns pensamentos e a proibição de sentir e pensar tudo aquilo que poderia por em causa o sentimento dele por mim, acreditando que ao ver o meu lado mau, o bom não seria suficiente para compensar e, inevitavelmente, tudo quebraria. 
Mas só podemos amar alguém quando aceitamos tudo acerca de si, seja o bom, seja o mau. E isso é válido quando falamos acerca do amor que sentimos pelo outro, mas também pelo que sentimos por nós próprios. Quando temos liberdade para nos expressarmos e sermos quem somos, quando o outro nos permite esse espaço, nos respeita incondicionalmente nesse esforço contínuo de nos pormos no mundo tal e qual como somos, sabemos que é amor. E foi isso que nos aconteceu. Ele ensinou-me a dar pequenos passos em direção à aceitação, fez-me compreender que não ia a lado nenhum por eu ser quem sou e que esse núcleo, cheio de coisas boas e imperfeições, é o que o faz ficar bem perto e junto de mim. Eu alimentei-me dessa verdade e fui despindo todas as camadas que outrora construí, até que no final fiquei eu, apenas eu, exposta e vulnerável, com tudo aquilo que sou e trago comigo. E ele viu, apreciou, abraçou-me num daqueles abraços que valem mais do que mil palavras e que têm o poder de dizer tudo, sem ser necessário proferir um som ou verbalizar uma palavra. 
E é tudo isto que encontro quando me perco na leitura da história de Grace e Matt. Os seus encontros e desencontros, o modo como, por vezes, a vida se intromete no caminho, mas como aquilo que tem de ser encontra sempre o seu rumo. Como o amor nos transforma, nos fortalece e nos faz acreditar que tudo é possível. 
Ainda não terminei e estou naquele sentimento ambivalente, alternando entre o desejo e a ânsia de ler o livro até ao fim e a calma e prazer de saboreá-lo, aproveitando ao máximo estas personagens, a quem me vai custar dizer adeus. Estou a torcer, a rezar mesmo, para que este livro não me parta o coração. E, nos entretantos, perco-me a ouvir Jeff Buckley,  sabendo que não tornarei a ouvir uma canção sua sem pensar nesta história ... e, inevitavelmente, na minha, nossa. 
 

Sometimes a man gets carried away,
When he feels like he should be having his fun
Much too blind to see the damage he's done
Sometimes a man must awake to find that, really,
He has no-one...
So I'll wait for you... And I'll burn
Will I ever see your sweet return?
Oh, will I ever learn?
Oh, Lover, you should've come over
'Cause it's not too late.

 

21
Set21

46. gratidão

mar

Hoje é o dia mundial da gratidão. Não fazia a mais pequena ideia, fiquei a saber por um daqueles emails publicitários que recebo diariamente com ofertas e promoções. Mas é maravilhoso existir este dia que nos relembra, mais uma vez (porque nunca é demais), da importância de contar as nossas bênçãos e de nos sentirmos gratos. A gratidão não precisa de ser pelas coisas gigantes e dantescas; muito pelo contrário, podemos encontrá-la perto das coisas simples, pequenas, por vezes tão pequenas que até nos passam despercebidas e só damos pela sua falta quando desaparecem. 

Este é um dos meus sentimentos favoritos, tenho de confessar. Adoro quando sou invadida por este sentimento, porque normalmente não vem só. Faz-se acompanhar pela felicidade, alegria, plenitude. Adoro ser apanhada desprevenida por esta sensação de agradecimento, de estar a meio do meu dia ou de uma tarefa qualquer e sentir-me simplesmente grata por cá estar. Ou por ter pessoas boas na minha vida. Ou por ter um corpo que me permite desfrutar da experiência que é viver. Ou por ver o nascer do sol. Ou por ouvir os passarinhos a chilrear na janela do quarto. Ou por ler um bom livro e ser incapaz de o pousar até chegar ao final. Ou por beber uma boa chávena de chá e sentir-me acolhida. Ou por ser capaz de ultrapassar um desafio. Ou por sorrir e receber um sorriso de volta. Ou por ouvir uma boa música. Ou por acordar de manhã numa cama confortável, quente e ter o amor da minha vida ao meu lado. 
É fácil encontrar motivos que nos façam sentir agradecidos; o que é mais difícil é lembrarmo-nos de os procurar diariamente. Nunca me esqueço de uma frase, que creio ser da autoria da Oprah Winfrey: 
"Be thankful for what you have; you'll end up having more. If you concentrate on what you don't have, you will never, ever have enough".       
E faz todo o sentido. Porque, como diz a Colleen Hoover, às vezes não é sobre ver o copo meio cheio ou meio vazio, mas sim simplesmente estar-se grato por se ter um copo. 
16
Set21

44. let it be

mar

Dias menos bons todos os temos, hoje é a minha vez. Não me sinto mal humorada nem zangada com o mundo; apenas me sinto triste. Estão a acontecer muitas coisas na minha vida, com as pessoas que mais gosto. E apesar de a minha atitude ser, por norma, focada nas soluções e "para frente é que é o caminho", quando me permito desacelerar, encontro-me com a tristeza de as coisas serem como são e não como eu gostaria que elas fossem. 

Nas consultas, digo muitas vezes aos meus clientes que parar faz parte da viagem. Ajuda-nos a reestabelecer, a reunir energias novas, a definir o rumo e equacionar possíveis novas trajetórias. Costumo dizer-lhes que o importante não é chegar rápido, mas sim chegar longe. E agora sou eu que estou parada, a meio da minha viagem, a ganhar fôlego para continuar a minha caminhada. Esta tristeza abranda-me, imprime um ritmo mais lento, torno-me mais observadora do que participante, como se visse tudo de uma outra perspetiva.

E embora não goste de me sentir assim (creio que ainda não conheci ninguém que gostasse de se sentir triste), sei que é necessário dar espaço e tempo a esta emoção. Preciso de sentir esta tristeza que marca o início de uma nova etapa, um capítulo que termina e outro que se inicia. É preciso chorar a dor, acarinha-la, permita-la existir e ser. Esta letargia serve precisamente para acolher a minha tristeza e dar-lhe o colo que necessita. 

Nem sempre é fácil não resistir às emoções negativas. Creio que não somos instruídos a aceitar a tristeza com a mesma naturalidade que aceitamos a alegria. A dor, o sofrimento, a raiva, a desilusão, o medo são sentimentos aos quais viramos, muitas vezes, as costas na esperança de que quando nos tornarmos a voltar, eles já não estejam lá. Mas eles não vão a lado nenhum enquanto não os abraçarmos e permitirmos. 

Por isso, hoje é um dia menos bom e eu aceito-o. Não me esforço para que seja de outra forma, porque se há dias em que se deve investir em contrariar o mau génio, há outros em que é necessário liberta-lo. Hoje é um desses dias. E está tudo bem. 

15
Set21

43. Without Merit

mar

Andei muito tempo a adiar a leitura do Without Merit da Colleen Hoover (em português, A Ilusão de Merit). Parece estranho, sendo eu uma leitora compulsiva assumida de tudo que a Colleen escreve, mas a verdade é que este livro nunca me despertou interesse. Primeiro, pelo nome; segundo, pela capa; e, por último, pela sinopse estranha e confusa. Não me cativou também o facto de ter lido reviews no GoodReads e este ser um dos poucos livros da Colleen com menos pontuação e menos críticas positivas. 

Demorei muito tempo a adquiri-lo e admito que quando o fiz, fi-lo por duas razões muito elementares: 1º, porque estava em promoção e 2º, porque tenho um lugar na minha biblioteca reservado para Hoover e, como tal, tenciono ter todos os livros por si escritos. Mas entre comprar e começar a lê-lo, passaram-se meses. Ainda coloquei o livro na mesinha de cabeceira, para ver se a coisa se dava, mas surgia sempre um interesse maior e depois uma coleção e o livro foi ficando, a acumular pó, à espera. 

No sábado à noite, depois de terminar de ler Franco, o último livro da coleção Bright Side, de Kim Holden, decidi que estava na hora de pegar na llusão de Merit e dar-lhe uma oportunidade. Comecei no domingo e terminei hoje de manhã o último capítulo. Confesso que à medida que ia lendo, pensei para comigo mesma diversas vezes "mas porquê que eu resisti tanto a este livro?". Porque se revelou uma boa surpresa.

Não posso dizer que me deixou arrebatada ou que foi o melhor livro da Colleen que já li. Mas cativou-me ao ponto de estar no trabalho e pensar, por mais que uma vez, que só me apetecia chegar a casa e ler um pouco mais. Descobrir mais acerca de Merit e da história da família Voss, que é tão estranha, excêntrica e única, que me prendeu desde as primeiras páginas. 

Colleen atacou e ganhou novamente, porque é uma excelente contadora de histórias. As suas personagens e as relações que estabelecem entre si têm sempre o poder de nos envolver e cativar, de nos deixar sedentos de as conhecer melhor e as acompanhar. Gostei muito do modo como Colleen construiu, desconstruiu e tornou a construir a personagem de Merit, assim como as restantes da sua família. A dinâmica familiar estranha, até mesmo absurda, que nos faz concluir que não existem famílias perfeitas, que todos trazemos muito mais dentro de nós do que aquilo que permitimos que os outros vejam e que somos muito mais complexos, profundos e incoerentes do que aquilo que gostaríamos de ser. Gostei do modo como a saúde mental é abordada e como um episódio dramático conseguiu ser redentor e revolucionar a vida de todos os elementos da família; gostei, particularmente, da forma como a explosão de Merit reforça a ideia de que a comunicação, aberta e honesta, nos leva sempre mais longe e nos aproxima mais uns dos outros. Fez-me lembrar, nem a propósito, do meu desabafo de ontem. 

Pelo meio, ficam diálogos muito bonitos, reflexivos e outros incrivelmente cómicos, que tornaram esta leitura tão boa e confirmaram a minha paixão literária imensa por esta escritora. Aconselho vivamente a leitura, desta vez li em português, mas acredito que a versão original valha muito a pena (não desfazendo a portuguesa, que também está muito boa!). Ah, e já agora, depois de ler, o título, que inicialmente me causou estranheza, passou a fazer todo o sentido 

14
Set21

42. grito silencioso

mar

Eu gostava de conseguir dizer tudo aquilo que trago dentro de mim, mas sei que as palavras são como as cartas, depois de batidas não podem ser recolhidas.
No outro dia escrevi sobre a falta de sensibilidade e o modo como a honestidade, sem cautela, pode ferir. Escrevi sobre a importância de estudar bem aquilo que se vai dizer, de se pensar antes de falar. Nesse texto foquei-me naqueles que são brutos, inconvenientes, que falam primeiro e pensam depois. Naqueles que para expressarem a sua verdade não olham a meios nem pensam que a sua verdade é apenas a sua e não a de todos; que pode magoar; que pode não ser necessária, sobretudo quando nem sequer é solicitada. Mas esqueci-me de vos falar acerca dos outros, daqueles que, precisamente por estudarem muito bem todos os "se's", se inibem de falar. E se calam, engolindo em seco, mantendo a sua honestidade presa no pensamento. Estarão mais corretos do que os primeiros? Sinceramente, não sei.
Eu, que faço parte do segundo grupo, começo a olhar para a questão de outra perspetiva. A visão de alguém que está cansada de ser a conciliadora, a que apazigua os ânimos e procura sempre a harmonia. Porque é bom ser a pessoa que ergue a bandeira branca da paz e tréguas, mas é profundamente injusto esse papel sobrar sempre para os mesmos. O que eu tenho sentido é isso mesmo: injustiça. E revolta. Às vezes apetece-me gritar e comportar-me como os outros, que falam com toda a certeza do mundo. Apetece-me ser insensata, apetece-me bater o pé e esperar que o outro ceda e se renda. Apetece-me ser honesta, doa a quem doer, e dizer tudo aquilo que acho, sem pensar nas consequências. Por uma vez na vida, gostava de me comportar de forma inconsequente e impulsiva. Para ver o que aconteceria e experimentar essa sensação única. 

Como partilhei anteriormente, esta procura de paz esconde muitas vezes uma dificuldade de afirmação e definição de limites. No outro dia, uma amiga com quem vivi na universidade partilhava uma atitude que eu tinha tido quando moramos juntas em relação a um terceiro companheiro de casa, que andava sempre a protelar a realização das tarefas domésticas até que foi encostado à parede (metaforicamente, está claro!) por mim e começou a fazer a sua devida parte. Depois de a ouvir contar esta história, só consegui questionar "fui mesmo eu que fiz isso?". Parecia-me que estava a falar de uma outra pessoa e não de mim, não me reconheci naquela atitude, com muita pena minha. Porque tenho saudades de ser essa pessoa afirmativa e assertiva que sabe dizer as coisas e não deixa nada pendente. Ao longo do tempo, não posso deixar de notar que me tornei mansa, delicada a um ponto que tenho tanto receio de ferir suscetibilidades que ando com as pessoas ao colo como se fossem de vidro e fossem quebrar ao mínimo comentário. 

Acredito com convicção que espelhamos nos outros aquilo que vai dentro de nós; que esta preocupação em magoar os outros reflete o meu medo em sair magoada e, mais profundamente, evidencia a minha necessidade de agradar e dificuldade em acreditar que as pessoas podem gostar de mim pelo que sou na íntegra e não apenas quando sorrio e aceno. Não sei precisar o momento em que esta estratégia me foi útil e começou a fazer parte do meu reportório comportamental, mas sei que se cristalizou de tal modo que só poderá ter ocorrido numa situação e contexto em que foi altamente importante para a minha sobrevivência emocional (*inserir tom dramático*).

Isto só me torna ainda mais curiosa (e um bocadinho invejosa, em alguns momentos) em relação às pessoas que dizem aquilo que pensam, doa a quem doer. Acredito que deverá ser uma sensação de liberdade imensa e de homeostasia plena. Para mim, normalmente, o equilíbrio obtém-se quando existe paz exterior, mas existem exceções e é por essas que comecei a escrever este desabafo. É sobre as situações em que engolir em seco, respirar fundo até 1000, e pensar muito antes de falar se torna asfixiante e revoltante. É sobre os momentos em que a paz interna não se alimenta apenas da harmonia em redor e precisa de mais. Precisa de catarse, de movimento e liberdade. Precisa até de provocar reação no outro, por mais triste que possa ser dizê-lo. Mas precisa de causar impacto, de fazer os outros compreender, nem que seja à força, que existem mais perspetivas e posições do que as suas. É sobre os momentos em que me apetece gritar e dizer tudo o que penso, sem filtros, sem cuidados, sem pensar nas consequências. 

Nesta fase que me encontro a viver, não faltam oportunidades para sentir esta asfixia. Com várias pessoas e diversas situações. Tenho guardado tudo para mim, optando pelo silêncio ou pela retirada. Chego mesmo a afastar-me para respirar e focar-me noutros estímulos. Ando a encher, a acumular e começo a sentir os sinais acusatórios de pressão. A irritabilidade crescente, a respiração curta alternada com profunda, o revirar de olhos abismal que me faz temer que os olhos não retomem a sua posição base. E esta inquietação, este formigueiro que me percorre o corpo quando estou perto de gritar e dizer tudo o que penso. Estou à beira do precipício da assertividade, ou, pensando melhor, da agressividade. Do 8 para o 80, da passividade mansa para a agressividade que leva tudo à frente. 

Por isso, escrevo. Para organizar estes pensamentos e refrear estas emoções. Para, mais uma vez, colocar tudo em perspetiva. Para gritar através da palavra escrita, a minha forma preferida de expressão. Para libertar tudo que trago dentro de mim. É o que a escrita representa para mim, desde sempre. Sei que não é suficiente e que, como Jung tão bem disse, o que resiste, persiste. Mas, para já, é tudo que tenho e é o único lugar onde não me censuro e me permito tudo. 

Gosto, genuinamente, de ser mais harmonia do que conflito; de apaziguar em vez de complicar. Não mudaria a minha forma de ser, não considero que seja incorreta. Mas mudaria o modo como a expresso, porque me torna vulnerável e um cordeiro em terra de lobos. 

10
Set21

40. carpe diem

mar

Encontrei uma pasta na minha google drive com todas as fotografias dos tempos da escola básica e secundário. Provavelmente deverei ter criado esta pasta como um backup e nunca mais me lembrei dela, até esta semana ter tropeçado nela e me ter deliciado a rever verdadeiros tesourinhos e reviver momentos que fazem parte dos melhores anos da minha vida. 

É tão giro ver estas fotos e comparar aquela fase da minha vida com a atual. O grupo de amigos manteve-se, apesar de algumas entradas e saídas, somos o mesmo núcleo duro. Fomos para a universidade, formamo-nos, uns regressaram à terrinha, outros aventuraram-se noutras cidades e há quem, ainda, se tenha aventurado pelo mundo. Uns já casaram, outros vão casar, uns vivem com os pais, outros já vivem com os/as namorados/as. Uns ainda estão à procura de trabalho, outros estão a construir uma carreira sólida e outros, ainda, mudaram de rumo e estão a começar tudo do zero. Mudamos de estilo, de rosto e corpo, de corte de cabelo e penteado, mas mantemos todos a nossa essência. Estamos mais crescidos, mais adultos, mas continuamos a ser uns idiotas felizes quando estamos todos juntos, sempre a gozar uns com os outros e a fazer parvoíces. 

Ao ver estas fotos é inevitável refletir como o tempo passa tão depressa e como, neste processo, vamos ganhando tanta densidade. Quando me vejo aos 17 anos, encontro tanta descontração e leveza, quem me dera voltar, nem que por meros segundos, a essa sensação de que o mundo está todo por descobrir e eu não carrego peso nenhum em cima dos ombros. Não levava nada na bagagem a não ser sonhos, fantasias e desejos.

Hoje, dez anos depois, sinto que me tornei demasiado séria, controlada e controladora. Há pouco espaço para a espontaneidade, tudo tem de ser encaixado num horário, numa agenda. Tudo tem de ser pensado e calculado, o tempo já não é inteiramente meu. Há demasiada pressa e urgência em tudo, estou sempre a correr em contra relógio, canso-me mais facilmente e aproveito muito menos.

É certo que adquirimos experiência e sabedoria. E que o tempo tem de seguir e poder seguir com ele é uma bênção, sempre, a cada dia, todos os dias. Mas não posso negar: fiquei com saudades destes tempos leves e livres, em que passávamos os dias todos juntos, sempre a rir, sempre descontraídos. Levávamos a sério o que era estritamente necessário e, tudo o resto, fluía.

Por vezes, perto de minha casa, vejo um grupo de miúdos a andar de bicicleta, a rirem-se, a mandarem piadas uns aos outros, morenos de passarem o dia todo na praia, e não consigo não sorrir. Estão a aproveitar uma das melhores fases da vida e isso é maravilhoso. E ao vê-los só consigo pensar que preciso de deixar a vida fluir mais e me deixar levar ao seu sabor, ao seu ritmo. 

Aproveitar mais as pessoas, a natureza, parar para ver o nascer e o pôr do sol, ouvir as ondas do mar, os pássaros. Comer com calma e saborear cada dentada; ouvir música com coração e alma; conversar e rir com toda a energia. 

Na minha secretária tenho um post-it, colado no computador, que diz "The purpose of life is to enjoy every moment", para me relembrar da importância de viver todos os momentos. De estar presente. De estar aqui, aberta à experiência e aproveitar, desfrutar, saborear a delícia que é a vida. 

27
Ago21

35. mercado de trabalho

mar

Volta e meia, mas com menos frequência do que aquela que deveria, faço uma pesquisa pelas vagas de emprego disponíveis na minha área de residência e terrinhas adjacentes. Quase sempre fico surpreendida e triste com aquilo que encontro disponível no mercado. Há uma enorme procura de pessoas para funções para as quais não são necessárias habilitações académicas superiores e muito pouca oferta para aqueles que têm essa formação. E acho que isto tem de nos deixar a pensar um bocadinho no rumo que o mercado de trabalho está a seguir.

Embora trabalhos como serralheiro, eletricista, torneiro mecânico, sei lá, são apenas alguns exemplos que me atravessam a mente neste momento, não exijam um determinado curso superior, exigem um enorme know-how que, normalmente, advém da experiência. O mesmo se aplica com algumas áreas industriais e fabris: é frequente os operadores de chão de fábrica terem mais conhecimento sobre as máquinas do que os ditos engenheiros mecânicos e eletrotécnicos, porque são os primeiros que estão todos os dias no terreno, com as mãos na massa, a desvendar as manhas e enigmas das máquinas. No entanto, muitos deles não tiraram nenhum curso, aprenderam com a experiência. O que quero dizer com isto é que não se pode desvalorizar as pessoas sem formação académica superior e achar que não ter um curso superior faz delas inferiores. O mercado de trabalho atual é a prova disso, porque existe uma enorme procura e uma escassa oferta destes profissionais.

Por sua vez, na situação oposta, os académicos, recém-licenciados, mestres e até doutorados, passam dias a fio a enviar currículos espontaneamente na esperança de que alguém os chame para uma entrevista e, no limite, lhes ofereça um estágio profissional. Tiraram um curso, especializaram-se, fizeram três cursos de línguas diferentes e, pelo meio, ainda ajudaram em algumas associações de voluntariado. A maioria até teve a oportunidade de estudar um semestre noutro país e muitos estiveram à frente de projetos académicos exigentes e muito dignos. No entanto, na hora de entrar no mercado de trabalho, são apenas mais um. Não há qualquer diferenciação quando toda a gente à nossa volta tem um curso e, aparentemente, tem o mesmo para oferecer.

Sei que estou a ser muito redutora no meu raciocínio, porque é certo que não partimos todos do mesmo ponto de partida e que duas pessoas com um currículo exatamente igual são seguramente diferentes a trabalhar e podem trazer diferentes mais-valias a uma empresa. Mas estou a tentar traçar o retrato do nosso mercado profissional atual: todos os anos se formam milhares de jovens num país que, infelizmente, não tem espaço para abraçar todos.

Se, por um lado, é uma conquista a educação estar cada vez mais acessível a toda a população, por outro lado, questiono-me se não se deveria refletir acerca do ensino superior e rever os diferentes cursos e o número de vagas dos mesmos. Sei que a solução não deveria passar por cortar as oportunidades de formação, mas sim ampliar as oportunidades de trabalho. É verdade, esse seria o cenário ideal e eu espero, honestamente, que caminhemos nessa direção, mas à luz daquele que é o cenário atual, creio que se torna necessário refletir se não estamos a tornar-nos numa fábrica de licenciados, mestres e doutorados que depois não podem aplicar os conhecimentos que adquiriram através de um investimento contínuo e exigente. É, no mínimo, injusto. E por mais que eu seja a favor da máxima de que o conhecimento não ocupa lugar, não posso ser lírica e crer que todas as pessoas que seguem à universidade vão com a única expectativa de alargarem os seus conhecimentos. Isso deverá ser uma pequena fatia da população que ingressa na faculdade; a maioria vai com um plano de carreira, vai para se formar numa área e, posteriormente, trabalhar nela e construir a sua vida.

No meu caso pessoal, optei por tirar o curso de psicologia, na altura completamente alheia à realidade do que era a psicologia em Portugal. Tinha 18 aninhos feitos há pouco tempo, mais dúvidas do que certezas, e segui a única área que achei que poderia gostar. Não me enganei, adorei o curso e se pudesse passaria a minha vida a investir em formação e pós-graduações dentro desta área. Mas quando cheguei ao fim de cinco anos, além de um mestrado na mão, não tinha qualquer perspetiva de oportunidade de trabalho. Aliás, para dificultar um pouco mais a situação, no caso particular da psicologia, ainda tinha a obrigatoriedade de fazer um estágio profissional para a Ordem dos Psicólogos para poder exercer. Mas isto é um outro assunto, que fica para um outro post. O que quero dizer é que hoje trabalho numa área diferente daquela na qual me formei (apenas faço alguns trabalhos na minha área), porque foi onde tive oportunidade de trabalho. Um curso já não nos define como talvez, em tempos, aconteceu. E isto acontece não apenas porque nem sempre tiramos o curso que realmente se identifica connosco e o que queremos fazer, mas sobretudo porque muitas vezes somos forçados a abrir janelas quando as portas principais se fecham. Torna-se imperativo procurar outras opções quando as primeiras deixam de ser válidas.

Pensemos na realidade do curso de psicologia, que é a que conheço melhor. Há cursos no Porto, Braga, Aveiro, Covilhã, Coimbra, Lisboa, Algarve e deverão existir noutras cidades, que não conheço. Além das universidades públicas, somam-se as privadas onde o curso também é lecionado. Agora somemos a quantidade de psicólogos que se formam por ano e olhemos para a situação precária da psicologia em Portugal.

Embora sejamos dos países com maior consumo de antidepressivos e ansiolíticos, o que nos alerta para o facto de a saúde mental estar completamente marginalizada (embora a pandemia tenha vindo ajudar a que o tema se torne falado com outra postura), não temos oportunidades para estes profissionais. O serviço nacional de saúde, neste aspeto, é vergonhoso. Estive num centro de saúde a trabalhar, numa das maiores cidades deste país, e era assustadora a quantidade de processos clínicos em lista de espera. E os poucos e escassos funcionários disponíveis também não conseguiam dar resposta. O que quero dizer é que existe muito trabalho na área da saúde mental, mas não existem oportunidades, o que são coisas completamente diferentes. Há muito trabalho a fazer não só a nível corretivo/remediativo, mas também a nível preventivo. Em todos os contextos: escolas, lares, empresas, hospitais, centros de saúde; para todas as faixas etárias. Mas onde estão as oportunidades?

Sei que a criação da ordem ajudou a filtrar muitas pessoas, porque a verdade é que muitos colegas não conseguem sequer fazer o estágio profissional e ao fim de tantas tentativas, acabam por desistir e seguem por outros percursos profissionais. Não morre ninguém, é certo que a vida é reconstrução e o plano inicial traçado não tem de ser o concluído, mas também não podemos negar a tristeza que é investir numa formação, não apenas dinheiro, mas também tempo, energia e dedicação, para depois ver esse investimento cair em banca rota.

Falo da psicologia, mas, infelizmente, esta realidade é transversal a muitas outras áreas. E quando faço o que fiz ontem, que é ver as vagas disponíveis, constato que ter uma formação superior não só não assegura nenhuma oportunidade como ainda pode ser um obstáculo a seguir um percurso alternativo.

Felizmente, para aqueles que constituem o universo dos trabalhadores indiferenciados, as oportunidades vão aparecendo. No local onde trabalho, a maioria das pessoas não tem formação superior e tem um trabalho onde se sente realizada, onde conseguiu evoluir e tem uma remuneração igual ou superior à dos ditos formados. E sei que muitos destes colegas, mesmo sem o diploma, sabem tanto ou mais do que muitos académicos, pelo que fico feliz por ver o seu conhecimento e experiência serem reconhecidos. Não é isto que me causa estranheza ou tristeza; o que me deixa revolta é a situação em que se encontram os outros. Que podem saber tanto, ou mais ou menos, mas nem sequer têm uma oportunidade para o mostrar; que não são contratados porque não têm experiência e, desse modo, ficam eternamente condenados porque nunca a poderão adquirir. 

Entrei no mercado de trabalho oficialmente há quatro anos e a minha visão acerca deste universo tem variado, também em função das oscilações sentidas no próprio mercado. É apenas a minha reflexão acerca de um tema que não é nada fácil, mas que é urgente refletir acerca de. Há muitas variáveis a considerar, é preciso olhar a questão de diferentes ângulos e perspetivas e espero que a minha opinião não tenha sido demasiado obtusa e limitativa. 

E vocês? O que pensam acerca deste assunto? Como podemos, na vossa opinião, inverter este cenário?

27
Ago21

34. friday inspiration

mar

Subscrevo algumas newsletters, uma delas é a do James Clear, de quem já falei aqui. Adoro o facto de todas as quintas-feiras receber um email do James que me faz pensar e quase sempre me inspira. O de ontem foi tão bom, que me apetece partilhar com vocês uma pequena parte:

Nadine Stair, an 85-year-old woman from Louisville, Kentucky, shares her answer when asked, "How would you have lived your life differently if you had a chance?"

"If I had my life to live over again, I’d dare to make more mistakes next time. I’d relax. I’d limber up. I’d be sillier than I’ve been this trip. I would take fewer things seriously. I would take more chances, I would eat more ice cream and less beans.

I would, perhaps, have more actual troubles but fewer imaginary ones. You see, I’m one of those people who was sensible and sane, hour after hour, day after day.

Oh, I’ve had my moments. If I had to do it over again, I’d have more of them. In fact, I’d try to have nothing else—just moments, one after another, instead of living so many years ahead of each day.

I’ve been one of those persons who never goes anywhere without a thermometer, a hot-water bottle, a raincoat, and a parachute. If I could do it again, I would travel lighter than I have.

If I had to live my life over, I would start barefoot earlier in the spring and stay that way later in the fall. I would go to more dances, I would ride more merry-go-rounds, I would pick more daisies."

Não sei explicar-vos, mas sinto-me sempre tão bem e motivada quando ouço/leio pessoas a falarem sobre a sua experiência de vida e as lições que dela retiraram. É algo que me delicia desde sempre, poderia passar horas e horas a ouvir pessoas a contarem-me sobre as suas vivências e memórias. A compreender o que vai dentro delas, como olham para o mundo, quais as suas perceções acerca da vida. 

Essa passagem do email de ontem tocou-me especialmente. Espero que vos inspire tanto como a mim para não termos medo de viver, de arriscar a ser felizes, de perseguirmos sempre o caminho que nos parece o mais acertado, de sermos nós próprios com tudo que isso implica. 

P.S - por curiosidade, se pretenderem subscrever à newsletter do James Clear, creio que basta irem ao site dele e fazerem lá o registo. Recomendo vivamente, além de os temas explorados serem super interessantes e úteis, o James escreve tão, mas tão bem! É impossível não ficar horas a ler os diversos textos por si publicados e ainda é mais difícil não ficar a pensar neles depois. 

26
Ago21

32. Bright Side

mar

Estou a tentar organizar os meus pensamentos e, admito, sentimentos, para escrever acerca de Bright Side, de Kim Holden. Terminei este livro ontem e ainda estou meia anestesiada com a experiência desta leitura. Por onde começar? Por dizer que chorei durante duas horas? Que adormeci lavada em lágrimas? Mas que também sorri e me ri como uma tontinha?

Quero muito, mesmo muito, falar-vos deste livro e estou numa angústia enorme porque tenho receio de que nada do que eu escreva seja suficiente e se aproxime de um retrato real e fiel ao que este livro é. Ainda não comecei a escrever e já me sinto bloqueada e a sentir que cada palavra é uma facada que estou a dar a uma obra de arte como esta. Por isso, antes de avançar, quero fazer esta ressalva. Vou tentar, mas preparem-se para que as minhas palavras sejam mais pobres e confusas do que aquilo que eu gostaria que fossem.

Bright Side. O nome do livro é, por si só, o prenúncio de que vamos encontrar algo de positivo e, de facto, assim que lemos as primeiras páginas, encontramos a alma que responde por este nome e lhe dá vida: Kate Sedgwick.

Sem querer parecer exagerada, Kate é, talvez, uma das melhores personagens que já conheci. Aos meus olhos, a Kate reúne tudo aquilo que um dia eu gostaria de ser e é curioso como Kim Holden, a autora do livro, refere exatamente a mesma coisa no final: a Kate é quem quero ser quando for grande. É a grande aspiração e inspiração. Mas porquê?, perguntar-me-ão. O que a torna única e tão especial é como diz Gus, o seu melhor amigo:

“She’s the poster child for positivity. She’s a freaking ray of sunshine. She doesn’t just look on the bright side … she lives there.”

Kate é carpe diem, é o expoente da bondade e amizade, é a consciência sábia e plena de viver no lado positivo da vida, que existe sempre, por mais impossível e difícil que possa parecer em alguns momentos. E Kate sabe isso melhor do que ninguém porque a sua vida é provação atrás de provação, está constantemente a desafia-la, a todos os níveis, em várias dimensões. Kate escolhe sempre amarrar-se ao melhor:

“Today, my life is awesome.
I don’t want to think about tomorrow.
Or the day after that.
So I repeat to myself: Today, my life is awesome.

Kate é a gratidão, é capaz de ver além do óbvio e encontra sempre algo bom, sobretudo nas pessoas. Isso faz com que seja uma força motivadora para todos aqueles que estão em seu redor. Kate acredita nas pessoas, no seu potencial e dedica-se arduamente a que estes acreditem em si próprios, a que realizem os seus sonhos e abracem o presente com toda a espontaneidade que torna a vida tão incrível.

“I've always been pretty good at accepting the whole of someone, the good with the bad. I see it all, but try not to let it cloud my judgement. People are complicated. Life is complicated.”

“Don't judge each other. We all have our own shit. Keep your eyes on yours and your nose out of everyone else's unless you're invited in. And when you get the invitation, help, don't judge.”

E como é uma pessoa que parece sol, porque ilumina e aquece todos em seu redor, Kate está rodeada de pessoas incríveis como Gracie, Gus, Clayton, Shelby e, claro, Keller. À medida que ia lendo, mais e mais, só tinha vontade de também eu ser amiga de Kate. De conhecer alguém assim, tão estupidamente positivo, mas uma positividade que não é tóxica nem nefasta. É uma positividade genuína de alguém que opta por maximizar as bênçãos e minimizar as dores, nunca deixando de as sentir. Precisamente por as sentir é que Kate valoriza o que a vida tem de melhor, que são as pessoas, o por do sol, a bondade, a amizade, o amor, uma boa chávena de café, um bom livro. Não posso, nem quero, dar-vos muitos detalhes da história, mas quero que frisem que Kate está ciente de que a vida é incrível e de que podemos não estar conscientes disso e, por isso mesmo, não a aproveitamos como deveríamos.

“I’m not saying you shouldn’t pursue dreams and goals. Just don’t forsake the present for the unknowns of the future. A lot of happiness is bypassed, overlooked, postponed to a time years from now that may never come. Don’t bide your time and miss out on this moment for a tomorrow with no guarantee.”

“I would've missed out on some of the best moments of my life if I weren't spontaneous. Honestly, I try not to think about the future too much. I'm a huge fan of the present.”

O livro começa com a despedida de Kate e Gus, o seu melhor amigo, antes de Kate ir para a universidade. A relação entre ambos é muito especial, são quase uma extensão um do outro. As diversas interações entre eles são deliciosas por se basearem numa amizade pura, honesta, real, onde há genuinamente cuidado e interesse e o sentimento de desejar o melhor do mundo ao outro. Lá está, faltam-me as palavras para conseguir descrever o modo como Kate e Gus funcionam tão bem, numa dinâmica tão única e bonita.

À medida que a história se desenrola, acompanhamos a Kate nesta nova fase da sua vida e vemos tudo através dos seus olhos, o que é uma perspetiva incrível. É um par de óculos que eu gostaria de colocar e nunca mais tirar.

Surgem novas amizades, experiências, um grande amor.

“I love you more than you could possibly imagine.”
"My imagination is endless,”
“Good. So is my love.”

E há muito, muito para descobrir neste livro. Embora me tenha arruinado emocionalmente, porque é a verdade, causou uma destruição interna de dimensões inacreditáveis, ao mesmo tempo, este livro fez-me sorrir tanto. Dei por mim a rir-me sozinha, a deliciar-me com passagens tão simples, mas tão acolhedoras e bonitas.

Acima de tudo, este livro é isso mesmo: bonito. É intenso, é trágico, é lindo, é injusto, é espontâneo, é tudo aquilo que a vida também é. E a grande mensagem que a autora procurou transmitir resume-se em três simples palavras:

“You are brave.”

Todos nós, sem exceção, já vivemos períodos duros e difíceis. Já nos confrontamos com o sofrimento, com a perda, com a dor, com a impotência, com a fragilidade, com a sensação de desnorte, de confusão, de algo ser demasiado para aquelas que são as nossas capacidades. Mas todos nós também, sem exceção, somos capazes de nos transformar, de rescrever a nossa narrativa, de reconstruir os problemas em soluções, de nos adaptar, de crescer e fazer magia com a matéria prima que a vida nos dá.

“Just when you think you know someone, they change. Or you change. Or maybe you both change. And that changes everything.

Ainda estou a digerir tudo aquilo que este livro simbolizou para mim. E é engraçado que o meu namorado e amigas minhas dizem-me: mas porquê que lês coisas assim, que te fazem chorar? É precisamente por me fazerem sentir, por me fazerem embarcar em viagens interiores e reflexões que livros como Bright Side conquistam um lugar privilegiado no meu coração. Sabemos que um livro é bom quando nos arrebata, quando nos vira do avesso e nos faz confrontar com tantas emoções e pensamentos.

Acho que não consigo escrever mais sem entrar em detalhes que poderão estragar a vossa experiência de ler este livro. Kate é uma personagem que vai ficar comigo por muito tempo, que me inspira, que me faz querer ser melhor, que me ensinou muito. Podem achar-me doida, mas há personagens que me ficam cravadas na alma e se isso não é a coisa mais extraordinária de ler, então não sei o que será.

“Reading is an escape from the outside world. Everyone needs a little of that to keep their sanity.”

Espero mesmo que leiam este livro e, se o fizerem, por favor partilhem comigo como foi a vossa experiência. Quanto a mim, acabei de o comprar para ter na minha biblioteca e vou seguir para o segundo livro da coleção: Gus. Sem nunca esquecer:

“Gus, it always gets better.”