Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

just keep swimming

just keep swimming

14
Set21

42. grito silencioso

mar

Eu gostava de conseguir dizer tudo aquilo que trago dentro de mim, mas sei que as palavras são como as cartas, depois de batidas não podem ser recolhidas.
No outro dia escrevi sobre a falta de sensibilidade e o modo como a honestidade, sem cautela, pode ferir. Escrevi sobre a importância de estudar bem aquilo que se vai dizer, de se pensar antes de falar. Nesse texto foquei-me naqueles que são brutos, inconvenientes, que falam primeiro e pensam depois. Naqueles que para expressarem a sua verdade não olham a meios nem pensam que a sua verdade é apenas a sua e não a de todos; que pode magoar; que pode não ser necessária, sobretudo quando nem sequer é solicitada. Mas esqueci-me de vos falar acerca dos outros, daqueles que, precisamente por estudarem muito bem todos os "se's", se inibem de falar. E se calam, engolindo em seco, mantendo a sua honestidade presa no pensamento. Estarão mais corretos do que os primeiros? Sinceramente, não sei.
Eu, que faço parte do segundo grupo, começo a olhar para a questão de outra perspetiva. A visão de alguém que está cansada de ser a conciliadora, a que apazigua os ânimos e procura sempre a harmonia. Porque é bom ser a pessoa que ergue a bandeira branca da paz e tréguas, mas é profundamente injusto esse papel sobrar sempre para os mesmos. O que eu tenho sentido é isso mesmo: injustiça. E revolta. Às vezes apetece-me gritar e comportar-me como os outros, que falam com toda a certeza do mundo. Apetece-me ser insensata, apetece-me bater o pé e esperar que o outro ceda e se renda. Apetece-me ser honesta, doa a quem doer, e dizer tudo aquilo que acho, sem pensar nas consequências. Por uma vez na vida, gostava de me comportar de forma inconsequente e impulsiva. Para ver o que aconteceria e experimentar essa sensação única. 

Como partilhei anteriormente, esta procura de paz esconde muitas vezes uma dificuldade de afirmação e definição de limites. No outro dia, uma amiga com quem vivi na universidade partilhava uma atitude que eu tinha tido quando moramos juntas em relação a um terceiro companheiro de casa, que andava sempre a protelar a realização das tarefas domésticas até que foi encostado à parede (metaforicamente, está claro!) por mim e começou a fazer a sua devida parte. Depois de a ouvir contar esta história, só consegui questionar "fui mesmo eu que fiz isso?". Parecia-me que estava a falar de uma outra pessoa e não de mim, não me reconheci naquela atitude, com muita pena minha. Porque tenho saudades de ser essa pessoa afirmativa e assertiva que sabe dizer as coisas e não deixa nada pendente. Ao longo do tempo, não posso deixar de notar que me tornei mansa, delicada a um ponto que tenho tanto receio de ferir suscetibilidades que ando com as pessoas ao colo como se fossem de vidro e fossem quebrar ao mínimo comentário. 

Acredito com convicção que espelhamos nos outros aquilo que vai dentro de nós; que esta preocupação em magoar os outros reflete o meu medo em sair magoada e, mais profundamente, evidencia a minha necessidade de agradar e dificuldade em acreditar que as pessoas podem gostar de mim pelo que sou na íntegra e não apenas quando sorrio e aceno. Não sei precisar o momento em que esta estratégia me foi útil e começou a fazer parte do meu reportório comportamental, mas sei que se cristalizou de tal modo que só poderá ter ocorrido numa situação e contexto em que foi altamente importante para a minha sobrevivência emocional (*inserir tom dramático*).

Isto só me torna ainda mais curiosa (e um bocadinho invejosa, em alguns momentos) em relação às pessoas que dizem aquilo que pensam, doa a quem doer. Acredito que deverá ser uma sensação de liberdade imensa e de homeostasia plena. Para mim, normalmente, o equilíbrio obtém-se quando existe paz exterior, mas existem exceções e é por essas que comecei a escrever este desabafo. É sobre as situações em que engolir em seco, respirar fundo até 1000, e pensar muito antes de falar se torna asfixiante e revoltante. É sobre os momentos em que a paz interna não se alimenta apenas da harmonia em redor e precisa de mais. Precisa de catarse, de movimento e liberdade. Precisa até de provocar reação no outro, por mais triste que possa ser dizê-lo. Mas precisa de causar impacto, de fazer os outros compreender, nem que seja à força, que existem mais perspetivas e posições do que as suas. É sobre os momentos em que me apetece gritar e dizer tudo o que penso, sem filtros, sem cuidados, sem pensar nas consequências. 

Nesta fase que me encontro a viver, não faltam oportunidades para sentir esta asfixia. Com várias pessoas e diversas situações. Tenho guardado tudo para mim, optando pelo silêncio ou pela retirada. Chego mesmo a afastar-me para respirar e focar-me noutros estímulos. Ando a encher, a acumular e começo a sentir os sinais acusatórios de pressão. A irritabilidade crescente, a respiração curta alternada com profunda, o revirar de olhos abismal que me faz temer que os olhos não retomem a sua posição base. E esta inquietação, este formigueiro que me percorre o corpo quando estou perto de gritar e dizer tudo o que penso. Estou à beira do precipício da assertividade, ou, pensando melhor, da agressividade. Do 8 para o 80, da passividade mansa para a agressividade que leva tudo à frente. 

Por isso, escrevo. Para organizar estes pensamentos e refrear estas emoções. Para, mais uma vez, colocar tudo em perspetiva. Para gritar através da palavra escrita, a minha forma preferida de expressão. Para libertar tudo que trago dentro de mim. É o que a escrita representa para mim, desde sempre. Sei que não é suficiente e que, como Jung tão bem disse, o que resiste, persiste. Mas, para já, é tudo que tenho e é o único lugar onde não me censuro e me permito tudo. 

Gosto, genuinamente, de ser mais harmonia do que conflito; de apaziguar em vez de complicar. Não mudaria a minha forma de ser, não considero que seja incorreta. Mas mudaria o modo como a expresso, porque me torna vulnerável e um cordeiro em terra de lobos. 

31
Ago21

36.

mar

Hoje é o teu dia. Sempre foi, sempre será. 

Já pensei em ti muitas vezes hoje. Apareces-me no pensamento, de forma inesperada, e é sempre bom encontrar-te e pensar em ti. Naquilo que vivi contigo, no tanto que me ensinaste, na enorme e gigante pessoa que foste. Deixaste-me muito mais do que aquilo que alguma vez conseguirás imaginar; foste, és e creio que continuarás sempre a ser o meu grande modelo e exemplo. Pela tua força, pela tua determinação, pela tua coragem. Pelo cuidado e carinho, pelo teu colo acolhedor e abraço quente. 

Contigo ficou uma grande parte de mim, talvez uma das melhores. Porque, aos teus olhos, eu era sempre especial e sentia-me sempre assim. Olhavas-me com tanto amor e adoração, fazias-me sentir eternamente pequenina e protegida e como isso era maravilhoso!

Parabéns, minha avó fofinha. Gosto tanto de ti! Onde quer que estejas, sabe que continuas viva em mim e enquanto eu cá estiver, tu também estás. 

27
Ago21

34. friday inspiration

mar

Subscrevo algumas newsletters, uma delas é a do James Clear, de quem já falei aqui. Adoro o facto de todas as quintas-feiras receber um email do James que me faz pensar e quase sempre me inspira. O de ontem foi tão bom, que me apetece partilhar com vocês uma pequena parte:

Nadine Stair, an 85-year-old woman from Louisville, Kentucky, shares her answer when asked, "How would you have lived your life differently if you had a chance?"

"If I had my life to live over again, I’d dare to make more mistakes next time. I’d relax. I’d limber up. I’d be sillier than I’ve been this trip. I would take fewer things seriously. I would take more chances, I would eat more ice cream and less beans.

I would, perhaps, have more actual troubles but fewer imaginary ones. You see, I’m one of those people who was sensible and sane, hour after hour, day after day.

Oh, I’ve had my moments. If I had to do it over again, I’d have more of them. In fact, I’d try to have nothing else—just moments, one after another, instead of living so many years ahead of each day.

I’ve been one of those persons who never goes anywhere without a thermometer, a hot-water bottle, a raincoat, and a parachute. If I could do it again, I would travel lighter than I have.

If I had to live my life over, I would start barefoot earlier in the spring and stay that way later in the fall. I would go to more dances, I would ride more merry-go-rounds, I would pick more daisies."

Não sei explicar-vos, mas sinto-me sempre tão bem e motivada quando ouço/leio pessoas a falarem sobre a sua experiência de vida e as lições que dela retiraram. É algo que me delicia desde sempre, poderia passar horas e horas a ouvir pessoas a contarem-me sobre as suas vivências e memórias. A compreender o que vai dentro delas, como olham para o mundo, quais as suas perceções acerca da vida. 

Essa passagem do email de ontem tocou-me especialmente. Espero que vos inspire tanto como a mim para não termos medo de viver, de arriscar a ser felizes, de perseguirmos sempre o caminho que nos parece o mais acertado, de sermos nós próprios com tudo que isso implica. 

P.S - por curiosidade, se pretenderem subscrever à newsletter do James Clear, creio que basta irem ao site dele e fazerem lá o registo. Recomendo vivamente, além de os temas explorados serem super interessantes e úteis, o James escreve tão, mas tão bem! É impossível não ficar horas a ler os diversos textos por si publicados e ainda é mais difícil não ficar a pensar neles depois. 

25
Ago21

31. um chá: edição falecidos

mar

Após o chá das cinco dos vivos, apresento-vos agora a lista do chá com a eternidade, as escolhas daqueles que infelizmente já cá não estão, na edição dos falecidos. 

A primeira escolha é para os geeks, nerds, o que quiserem chamar, da malta da área da psicologia. E não, não estou a falar de Freud. Honestamente, acho que até teria algum receio de tomar chá com o caríssimo Sigmund, pois provavelmente estaria o tempo todo a analisar os meus atos falhados que, infelizmente, não são poucos. Refiro-me a Michael Mahoney, para mim um dos melhores psicoterapeutas da história. A obra constructive psychotherapy é um dos livros da minha vida e já perdi a conta ao número de vezes que a li e reli. Mahoney inspira-me não só como profissional, mas como pessoa. Há uma esperança e motivação que trespassam das suas palavras para a vida real que me fazem querer sempre ser mais e melhor. Algo que me causa estranheza quando penso na forma como deixou este mundo. Tenho a certeza que uma tarde passada a conversar com Mahoney seria como ganhar o euromilhões. 

Depois, não há como não escolher Martin Luther King Jr.. Desde que me lembro de ser uma pessoa pensante sempre me senti, simultaneamente, fascinada e aterrorizada pela segregação racista. Aterrorizada por aquilo que somos capazes de fazer uns aos outros, sem qualquer remorso ou peso na consciência, muitas vezes até crentes de que estamos certos e somos seres de valor moral superior. Ao mesmo tempo, fascinada pelo modo como, sem violência, os negros foram capazes de lutar pelos seus direitos e transmitiram a sua mensagem. É preciso ser-se muito nobre, grande, gigante para não recorrer às mesmas armas e optar pelo caminho da paz e amor perante o ódio e a violência. Adoraria conversar com Martin Luther King Jr. e ouvi-lo falar da sua jornada, dos seus valores e ideais. Claro que existem muitos outros como Nelson Mandela, por exemplo, mas não posso fazer mais batota, por isso opto por aquele que é a figura que, desde pequena, me inspira no que diz respeito à tolerância e a não fazer aos outros aquilo que não gostamos que nos façam a nós. 

De seguida, duas mulheres da área da música que o mundo perdeu cedo demais e que tinham tanto de talento como de insegurança. É impressionante como podemos ser tão bons, mas se não acreditarmos nisso, nunca nos sentimos dessa forma, por mais que os outros nos veja desse modo. Falo de Janis Joplin e Amy Winehouse. São de duas gerações completamente diferentes, mas sempre as achei tão parecidas no que diz respeito à sua psique. Depois de ver o documentário Little Girl Blue e o Amy (ambos vivamente recomendados) só senti vontade de as abraçar e dizer "meninas, vocês são incríveis, não deixem que ninguém vos convença do contrário e vos faça sentir que são menos do que isso!". Por isso, eu adorava ter a oportunidade de me juntar com estas duas mulheres que tanto admiro e poder dizer-lhes abertamente o quão épicas e inesquecíveis são. Depois pedia para cantarem para mim claro: a Janis podia cantar-me a Maybe e a Little Girl Blue e a Amy poderia cantar a You Sent Me Flying e a Help Yourself. Agora que penso, quão incrível seria estas duas se conhecerem? 

Ainda no universo musical, tenho mesmo de convocar o Jim Morrison para um chá. Para mim, as letras dos The Doors são poesia pura e eu adoraria conversar sobre isso com Jim. Adoraria ter a oportunidade de o conhecer, ele que foi uma figura tão carismática e única, embora ao mesmo tempo tão insegura, ao ponto de precisar de cantar de costas para não encarar o público. Seria uma tarde inesquecível, não tenho dúvidas.

Como convidados especiais, duas pessoas inspiradoras. A primeira, mais um nome da psicologia, o enorme Carl Rogers. Tornar-se pessoa é mais um dos livros que me marcou e transformou radicalmente a minha forma de estar na vida. A ideia de que estamos em constante processo de mudança, que estamos constantemente a tornar-nos, libertou-me de muitas crenças nada positivas. Rogers é luz, é esperança, é conforto, é aceitação, é acreditar que podemos tudo. Por algum motivo foi o criador da corrente humanista, aquela que vê o outro como ele é, que o aceita, que o acolhe e acredita profundamente no seu potencial.

A segunda, Tao Porchon-Lynch, a mais antiga professora de yoga, que faleceu recentemente, em 2020, mas que deixou um legado inspirador. Uma mulher pequenina e franzina que irradiava boa energia, sempre em movimento, confiante em si e na vida, que acordava todos os dias e dizia a si mesma "hoje vai ser o melhor dia da minha vida!". Como não querer estar na companhia de alguém assim? Acredito que uma tarde com Tao seria o equivalente a rejuvenescer muitos anos de vida.

25
Ago21

29. um chá: edição vivos

mar

Um amigo meu criou uma espécie de lista mental das cinco pessoas do mundo inteiro com quem adoraria tomar um café e conversar acerca da vida. Quando me contou acerca desta lista e me explicou as suas opções, fiquei de imediato a refletir sobre quem seriam as pessoas que constariam na minha lista. De acordo com o meu amigo, só podem ser incluídas pessoas vivas, mas após muita reflexão e muitos nomes depois, cheguei a duas listas: a edição dos vivos e a edição dos falecidos.

Hoje vou partilhar com vocês a primeira e admito, desde já, que não fui capaz de me ficar apenas por 5 pessoas, por isso incluí, em ambas, dois convidados especiais. E além desta batotice, ainda alterei a bebida, porque odeio café, por isso, teria de ser um bom chá! 

Então, a primeira pessoa que me passou pela cabeça foi a Colleen Hoover. Já escrevi acerca do quanto a admiro, não apenas como escritora, mas como pessoa. Acho que tomar um café com a Colleen ia ser uma das experiências mais divertidas da minha vida. Se a seguirem nas redes sociais, conseguem facilmente perceber como ela é incrível.

A minha segunda pessoa seria a Esther Perel. Também já a referi num ou outro texto por aqui e não é à toa. A Esther Perel é uma das minhas maiores referências, não apenas na área da psicologia (mais concretamente na área conjugal). É uma mulher super interessante e segura de si, as suas palestras deixam-me sempre rendida não só pela informação que partilha, mas pela confiança com que o faz. Admiro-a imenso e ao seu trabalho, por isso, consigo imaginar-me a passar horas a conversar com ela. 

Ainda na secção das mulheres, a Sarah Blondin tem um lugar obrigatório nesta lista. Acompanho o trabalho da Sarah através da aplicação Insight Timer e as suas meditações são algo para o qual creio ainda não existirem as palavras certas para definir. São mais do que uma paz imediata; são poesia pura. A alma da Sarah está espelhada no modo como escreve e nos guia nas suas meditações e é uma alma boa, cheia de luz e serenidade. Sempre que me sinto menos bem, as suas palavras confortam-me e adoraria conhecê-la melhor, a sua história e percurso.  

 

Não posso não referir aquele que é não apenas um dos meus escritores favoritos de todo o sempre, mas também uma das minhas maiores inspirações e referências na área da psicoterapia. Sim, falo do grande, gigante, enorme Irvin Yalom. Daria tudo para ter a oportunidade de o conhecer e lhe dizer, pessoalmente, o quanto me inspirou ao longo do meu percurso, não só como estudante, mas essencialmente como pessoa. Consigo reler e reler os seus livros, sem nunca me cansar. O Yalom não é apenas um psicoterapeuta extraordinário como também é um contador de histórias maravilhoso e ler sobre os seus casos clínicos é a certeza de que o paraíso existe e muitas vezes é um lugar aqui na terra. 

 

A minha próxima referência poderá ser considerada batotice, mas não é possível escolher apenas um deles porque eles, para mim, sempre funcionaram como um organismo único, em que é a existência das diferentes partes que forma um todo espetacular. Refiro-me ao cast de friends. Sentados no icónico sofá laranja do Central Perk, sei que me divertiria muito a tomar café com o Ross, o Chandler, o Joey, a Phoebe, a Monica e a Rachel. Estas seis personagens fazem parte da minha vida há muito tempo e por mais louco que isto possa parecer, ao fim de tantas temporadas vistas e revistas vezes sem conta, sinto-os como amigos. Por isso, a sua presença nesta lista é imperativa.

Chegamos ao apêndice inventado por mim, onde selecionei mais duas pessoas como convidados especiais. Preparem-se que os dois não têm nada a ver um com o outro, aliás, não poderiam ser mais opostos.

O primeiro convidado especial seria o lendário e poderoso Axl Rose. Todos temos uma banda que marca a nossa adolescência e, em alguns casos, a nossa vida toda. A minha são os Guns and Roses. Sei que o Axl não é uma figura consensual e é mais facilmente odiado do que adorado. Para mim, no entanto, o Axl é um génio naquilo que faz e sei que muito da sua forma de estar na vida se deve ao muito que já viveu. Adoraria conhecê-lo melhor e confirmar que, por trás daquela magnitude de rock star, está alguém profundamente sensível e especial. Porque só alguém assim escreve músicas como a Estranged ou a November Rain.

(eu sei que atualmente o Axl tem 59 anos e em nada se assemelha ao Axl dos anos 80, mas vamos ficar antes com esta recordação visual)

E, por último, uma pessoa muitíssimo especial: Dalai Lama. Tenho um fascínio enorme no que diz respeito ao budismo e o Dalai Lama é uma pessoa que nunca me pareceu real, tal é a serenidade que o envolve. É como se o homem estivesse rodeado por uma bolha invisível de paz e sapiência, impermeável a qualquer mal. Adoraria ouvi-lo, estar na sua presença e ser invadida pela sua tranquilidade. 

Ainda partilharei uma outra lista, a edição dos falecidos, porque há tanta gente boa que já cá não está e que adoraria ter a oportunidade de conhecer. 

E vocês? Com quem gostariam de tomar um café/chá e passar uma boa tarde a conversar? Quem vos inspira? 

24
Ago21

27. confessions of a ghost

mar

Gostava de compreender o porquê de fazer tanta confusão às pessoas existirem pessoas com tom de pele branquinho. A sério, podem ajudar-me a perceber este fenómeno que tende a manifestar-se nos meses de verão? 

No meu caso, sou um copinho de leite ambulante, um fantasminha. A minha pele é muito sensível, chegando a fazer alergia quando exposta demasiado tempo ao sol, mesmo com a devida proteção. Como poderão imaginar, com estas condicionantes, o que mais evito é ficar com escaldões ou alergias. Tenho amor próprio suficiente para me resguardar, só apanhar sol nos horários mais suaves e proteger-me sempre com FP 50+. 

E convivo muito bem com a minha brancura. É como sou, a minha pele é delicada, não há nada a fazer a não ser cuidar dela e preserva-la para não ter complicações maiores. No entanto, esta aceitação parece não se alargar às pessoas que me rodeiam. Sei que, provavelmente, não fazem por mal, mas têm sempre a necessidade de comentar "então, foste de férias e ainda assim estás branquinha?" ou "meu deus, estás mesmo branca!". Costumo rir-me e responder que a minha branquidão não é mutável, não é um estado temporário. Não estou branca, sou branca! 

Eu também gosto de ver as pessoas morenas, acho que ficam lindas e o moreno esconde muitas imperfeições, além de que quase todas as cores assentam bem numa pele morena. Mas se essa condição não está ao meu alcance, porque não aceitar? Porquê a necessidade de comentar? Para mim, é um assunto pacífico, mas acredito que existirão pessoas que se sintam ofendidas ou conscienciosas perante esse tipo de comentários. Além de que, por norma, quando se fazem esses reparos, provavelmente as pessoas não pensam que a outra pessoa poderá ter algum problema de saúde que a impeça de estar exposta ao sol ou, simplesmente, não gosta de o fazer!

No meu caso, gosto muito de praia, mas como tenho de ter tantos cuidados, acabo por preferir fazer uma boa caminhada à beira-mar do que estar deitada na toalha a esturricar. Mas tenho amigos que não suportam praia nem a ideia de estar deitados ao sol o dia inteiro. Outros, por exemplo, com apenas uma tarde de sol ficam praticamente pretos. Somos todos diferentes e ainda bem que assim o é!

Por isso, por favor, deixem os branquinhos em paz, que nós não implicamos com o vosso moreno incrível! 

23
Ago21

25. assertividade

mar

Se há coisa que me irrita é a falta de tato, de sensibilidade. Incomoda-me o facto de as pessoas dizerem o que bem lhes apetece sem pensarem, primeiro, no modo como a sua mensagem vai ser recebida pelo outro. Sem terem o cuidado de prever se o modo ou o conteúdo não poderão ser mal interpretados, difíceis de digerir e até se valem ou não a pena.

Facilmente se cai no erro de achar que ser sincero ou honesto é uma virtude sem limites, confundindo-se muitas vezes sinceridade com brutalidade. Creio que se pode dizer tudo, mas é preciso saber como o fazer e, quando não se sabe, é preferível estudar primeiro a estratégia do que avançar sem rodeios.

Lembro-me de duas situações destas que aconteceram comigo. Uma delas foi um comentário simplesmente desnecessário, que não me afetou pelo seu conteúdo, mas que me fez pensar que a pessoa perdeu uma excelente oportunidade para ficar calada. Ter a necessidade de elogiar alguém comparando com outra pessoa, reduzindo essa em detrimento da outra, é, no mínimo, desnecessário e ridículo. Porque não elogiar alguém simplesmente pelas suas características? Por si? Sem ter de a comparar com outra? Creio que ambas ficam agradecidas.

Outra situação, essa sim, magoou-me pela falta de sensibilidade demonstrada. Uma conversa que mais se assemelhou a um monólogo (uma vez que a oportunidade de dialogar se tornou insustentável), onde a carta da honestidade prevaleceu como “vale tudo”. Mas não vale tudo. Fiquei magoada não pelo conteúdo, mas pelo modo como aquela pessoa teve a capacidade de me expor, de me fragilizar e tornar vulnerável pela forma como optou por introduzir e desenvolver o assunto. Só conseguia pensar, enquanto a ouvia, que só queria abrir um buraco no chão para me esconder. Haveria necessidade disso? Estou convicta que não, bastava a pessoa ter adotado uma outra abordagem e a conversa já seria totalmente diferente.

E isto acontece todos os dias, sobretudo se pensarmos nas redes sociais, que se tornaram um palco, um microfone para toda a gente impor as suas opiniões a qualquer custo, mesmo que isso signifique o bem-estar emocional de outra pessoa. Vivemos na era do vale tudo e isso é tremendamente assustador. 

Pessoalmente, quando não tenho nada de positivo para dizer, remeto-me ao silêncio. Se acredito que posso transmitir a minha mensagem sem ferir ou magoar, faço-o e procuro assegurar que fui bem interpretada. Tenho o cuidado de estudar muito bem como vou dizer determinada coisa, como vou contextualizar, como vou abordar o assunto. Se estou a navegar pela internet e me deparo com alguma coisa que não gosto, sigo o meu caminho, não perco tempo a destilar o meu desagrado. É tempo e energia que se perdem em vão. O mesmo acontece na vida real e física. Não invisto tempo em pessoas ou situação que não o merecem. 

Nos últimos tempos tenho refletido bastante acerca deste tema, porque tenho sentido vontade de responder a alguns comentários que ouço e não de forma tão simpática. E acho que neste tópico reside uma aprendizagem importante que está à espera que eu a adquira. É preciso ser-se assertivo na comunicação, seja como emissor como recetor. Muitas vezes não o ouço, fico-me pela passividade e ao fazê-lo, permito que o outro pense que pode dizer tudo que quiser, como bem entender. Se não estabelecemos os limites entre o aceitável e inaceitável, as pessoas consideram que tudo é válido, quando não o é. É aqui que preciso de investir a minha atenção, porque de certo modo, estou a contribuir para uma situação que não me agrada.

Nem sempre é fácil ser assertiva quando o faço em prol de mim mesma. Sei que não faz sentido, mas entre defender alguém e defender-me a mim mesma, a primeira opção é sempre a mais fácil, aquela que faço num abrir e piscar de olhos. Quando se trata de mim, tenho muita dificuldade em impor-me, em traçar as fronteiras e defender os meus interesses. Noto isto em pequenas coisas como, por exemplo, fazer um pedido de férias. É um direito que tenho, enquanto trabalhadora, mas sempre que peço um dia, sinto-me a morrer por dentro como se estivesse a pedir um favor à empresa. E com a necessidade de justificar, muitas vezes. Se alguém me responde mal, por exemplo, procuro amenizar a situação, em vez de dizer diretamente à pessoa que não são modos de falar com alguém. O meu quotidiano está cheio de exemplos onde me falta afirmação pessoal e a capacidade de me defender. Por um lado, sei que muita da minha passividade advém de não gostar de conflitos e estar sempre sintonizada na opção que assegura a maior tranquilidade possível. Não me importo de engolir um ou outro sapo se isso significar que as coisas se resolvem e todos ficam bem. Mas esta passividade também tem raízes mais profundas, assentes em crenças como "será que tenho o direito de me impor?", "será que tenho o direito de me chatear?", "será que não sou eu que estou a exagerar?". Existe sempre uma vozinha dentro de mim que me diz que não, que não tenho esse direito, que me inferioriza em comparação aos outros. Como se eu fosse menos e, como tal, não tenho o mesmo direito que os outros têm de expressar a sua insatisfação. 

E eu sei que nada disto é lógico, nada disto faz sentido e nada disto é real. Que é necessário contrariar este padrão que, de alguma forma, se formou e repete sempre nas interações sociais. É uma aprendizagem, é um processo, o que significa que não será do dia para a noite, não será rápido nem indolor. Mas em pequenos passos, consistentes, é preciso ir praticando e afirmar o meu valor. Fico orgulhosa quando sou capaz de me defender, com educação, com assertividade. Sinto uma descarga de adrenalina, não vou mentir, é algo estranho e que me deixa acelerada, mas no final, sinto sempre que vale a pena. E só lamento que as pessoas não façam este exercício de reflexão, pensando de que modo poderão estar a contribuir para situações da sua vida das quais não gostam. Porque há sempre uma quota parte que é da nossa responsabilidade, que podemos fazer de forma diferente e só assim poderão surgir resultados também diferentes. 

É a velha e sábia ideia de que só podemos mudar e controlar aquilo que pensamos, dizemos e fazemos. Tudo o resto é externo à nossa vontade e poder. Mas dentro de nós, aí sim, reside toda a nossa liberdade e potencial. 

Mais sobre mim

foto do autor

Arquivo

    1. 2021
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D

Pesquisar

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em destaque no SAPO Blogs
pub