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just keep swimming

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13
Set21

41. 5% de bateria

mar

Está a ser uma segunda-feira difícil. Primeiro, acordei com o despertador e numa névoa mental de tal forma que, nos primeiros instantes, não percebi que já era segunda-feira. O meu cérebro demorou algum tempo a processar a dura realidade de que o fim de semana já tinha terminado. 

Depois, estou com uma dor de cabeça chata, aquelas que moem e moem. O mais certo é ser da rinite, porque me dói o nariz também e, para minha infelicidade, não tenho o meu comprimido S.O.S para estas crises. E todas as tarefas que tenho para fazer são uma autêntica seca, só me fazem sentir mais sonolenta. Sinto-me tão aborrecida. E reparei agora que está a chover torrencialmente e eu não trouxe guarda-chuva. Palmas para mim!
Estou a contar os segundos para as 18h00, mal posso esperar para sair daqui e respirar ar puro. Só me apetece chegar a casa e entregar-me ao sofá. Nem sei porquê que estou a escrever isto, odeio ser a pessoa que se queixa e não só é o que estou a fazer, como estou a partilhar na internet para que as minhas lamurias cheguem a mais gente. Espero, de coração, que não se deixem contagiar pelo meu aborrecimento e que estejam a ter um início de semana mais entusiasmante que o meu. Eu que até gosto de segundas-feiras, costumo dizer que não é o início da semana que me custa, mas sim o seu término, porque me sinto sempre cansada e a arrastar. Agora ... se este é o começo, imaginem o que me espera o resto da semana! 
09
Set21

39. retiro

mar

Aqueles dias em que contamos ainda mais os minutos para que o dia termine, em que só queremos estar em silêncio e na nossa companhia, em que tudo parece demasiado e muito difícil de lidar. Hoje é um desses dias. 

Estou desejosa de chegar a casa, ao meu ninho, vestir o pijama, beber um chá e desligar. Preciso de retiro, de sossego. E com esta chuvinha de companhia. 

27
Ago21

35. mercado de trabalho

mar

Volta e meia, mas com menos frequência do que aquela que deveria, faço uma pesquisa pelas vagas de emprego disponíveis na minha área de residência e terrinhas adjacentes. Quase sempre fico surpreendida e triste com aquilo que encontro disponível no mercado. Há uma enorme procura de pessoas para funções para as quais não são necessárias habilitações académicas superiores e muito pouca oferta para aqueles que têm essa formação. E acho que isto tem de nos deixar a pensar um bocadinho no rumo que o mercado de trabalho está a seguir.

Embora trabalhos como serralheiro, eletricista, torneiro mecânico, sei lá, são apenas alguns exemplos que me atravessam a mente neste momento, não exijam um determinado curso superior, exigem um enorme know-how que, normalmente, advém da experiência. O mesmo se aplica com algumas áreas industriais e fabris: é frequente os operadores de chão de fábrica terem mais conhecimento sobre as máquinas do que os ditos engenheiros mecânicos e eletrotécnicos, porque são os primeiros que estão todos os dias no terreno, com as mãos na massa, a desvendar as manhas e enigmas das máquinas. No entanto, muitos deles não tiraram nenhum curso, aprenderam com a experiência. O que quero dizer com isto é que não se pode desvalorizar as pessoas sem formação académica superior e achar que não ter um curso superior faz delas inferiores. O mercado de trabalho atual é a prova disso, porque existe uma enorme procura e uma escassa oferta destes profissionais.

Por sua vez, na situação oposta, os académicos, recém-licenciados, mestres e até doutorados, passam dias a fio a enviar currículos espontaneamente na esperança de que alguém os chame para uma entrevista e, no limite, lhes ofereça um estágio profissional. Tiraram um curso, especializaram-se, fizeram três cursos de línguas diferentes e, pelo meio, ainda ajudaram em algumas associações de voluntariado. A maioria até teve a oportunidade de estudar um semestre noutro país e muitos estiveram à frente de projetos académicos exigentes e muito dignos. No entanto, na hora de entrar no mercado de trabalho, são apenas mais um. Não há qualquer diferenciação quando toda a gente à nossa volta tem um curso e, aparentemente, tem o mesmo para oferecer.

Sei que estou a ser muito redutora no meu raciocínio, porque é certo que não partimos todos do mesmo ponto de partida e que duas pessoas com um currículo exatamente igual são seguramente diferentes a trabalhar e podem trazer diferentes mais-valias a uma empresa. Mas estou a tentar traçar o retrato do nosso mercado profissional atual: todos os anos se formam milhares de jovens num país que, infelizmente, não tem espaço para abraçar todos.

Se, por um lado, é uma conquista a educação estar cada vez mais acessível a toda a população, por outro lado, questiono-me se não se deveria refletir acerca do ensino superior e rever os diferentes cursos e o número de vagas dos mesmos. Sei que a solução não deveria passar por cortar as oportunidades de formação, mas sim ampliar as oportunidades de trabalho. É verdade, esse seria o cenário ideal e eu espero, honestamente, que caminhemos nessa direção, mas à luz daquele que é o cenário atual, creio que se torna necessário refletir se não estamos a tornar-nos numa fábrica de licenciados, mestres e doutorados que depois não podem aplicar os conhecimentos que adquiriram através de um investimento contínuo e exigente. É, no mínimo, injusto. E por mais que eu seja a favor da máxima de que o conhecimento não ocupa lugar, não posso ser lírica e crer que todas as pessoas que seguem à universidade vão com a única expectativa de alargarem os seus conhecimentos. Isso deverá ser uma pequena fatia da população que ingressa na faculdade; a maioria vai com um plano de carreira, vai para se formar numa área e, posteriormente, trabalhar nela e construir a sua vida.

No meu caso pessoal, optei por tirar o curso de psicologia, na altura completamente alheia à realidade do que era a psicologia em Portugal. Tinha 18 aninhos feitos há pouco tempo, mais dúvidas do que certezas, e segui a única área que achei que poderia gostar. Não me enganei, adorei o curso e se pudesse passaria a minha vida a investir em formação e pós-graduações dentro desta área. Mas quando cheguei ao fim de cinco anos, além de um mestrado na mão, não tinha qualquer perspetiva de oportunidade de trabalho. Aliás, para dificultar um pouco mais a situação, no caso particular da psicologia, ainda tinha a obrigatoriedade de fazer um estágio profissional para a Ordem dos Psicólogos para poder exercer. Mas isto é um outro assunto, que fica para um outro post. O que quero dizer é que hoje trabalho numa área diferente daquela na qual me formei (apenas faço alguns trabalhos na minha área), porque foi onde tive oportunidade de trabalho. Um curso já não nos define como talvez, em tempos, aconteceu. E isto acontece não apenas porque nem sempre tiramos o curso que realmente se identifica connosco e o que queremos fazer, mas sobretudo porque muitas vezes somos forçados a abrir janelas quando as portas principais se fecham. Torna-se imperativo procurar outras opções quando as primeiras deixam de ser válidas.

Pensemos na realidade do curso de psicologia, que é a que conheço melhor. Há cursos no Porto, Braga, Aveiro, Covilhã, Coimbra, Lisboa, Algarve e deverão existir noutras cidades, que não conheço. Além das universidades públicas, somam-se as privadas onde o curso também é lecionado. Agora somemos a quantidade de psicólogos que se formam por ano e olhemos para a situação precária da psicologia em Portugal.

Embora sejamos dos países com maior consumo de antidepressivos e ansiolíticos, o que nos alerta para o facto de a saúde mental estar completamente marginalizada (embora a pandemia tenha vindo ajudar a que o tema se torne falado com outra postura), não temos oportunidades para estes profissionais. O serviço nacional de saúde, neste aspeto, é vergonhoso. Estive num centro de saúde a trabalhar, numa das maiores cidades deste país, e era assustadora a quantidade de processos clínicos em lista de espera. E os poucos e escassos funcionários disponíveis também não conseguiam dar resposta. O que quero dizer é que existe muito trabalho na área da saúde mental, mas não existem oportunidades, o que são coisas completamente diferentes. Há muito trabalho a fazer não só a nível corretivo/remediativo, mas também a nível preventivo. Em todos os contextos: escolas, lares, empresas, hospitais, centros de saúde; para todas as faixas etárias. Mas onde estão as oportunidades?

Sei que a criação da ordem ajudou a filtrar muitas pessoas, porque a verdade é que muitos colegas não conseguem sequer fazer o estágio profissional e ao fim de tantas tentativas, acabam por desistir e seguem por outros percursos profissionais. Não morre ninguém, é certo que a vida é reconstrução e o plano inicial traçado não tem de ser o concluído, mas também não podemos negar a tristeza que é investir numa formação, não apenas dinheiro, mas também tempo, energia e dedicação, para depois ver esse investimento cair em banca rota.

Falo da psicologia, mas, infelizmente, esta realidade é transversal a muitas outras áreas. E quando faço o que fiz ontem, que é ver as vagas disponíveis, constato que ter uma formação superior não só não assegura nenhuma oportunidade como ainda pode ser um obstáculo a seguir um percurso alternativo.

Felizmente, para aqueles que constituem o universo dos trabalhadores indiferenciados, as oportunidades vão aparecendo. No local onde trabalho, a maioria das pessoas não tem formação superior e tem um trabalho onde se sente realizada, onde conseguiu evoluir e tem uma remuneração igual ou superior à dos ditos formados. E sei que muitos destes colegas, mesmo sem o diploma, sabem tanto ou mais do que muitos académicos, pelo que fico feliz por ver o seu conhecimento e experiência serem reconhecidos. Não é isto que me causa estranheza ou tristeza; o que me deixa revolta é a situação em que se encontram os outros. Que podem saber tanto, ou mais ou menos, mas nem sequer têm uma oportunidade para o mostrar; que não são contratados porque não têm experiência e, desse modo, ficam eternamente condenados porque nunca a poderão adquirir. 

Entrei no mercado de trabalho oficialmente há quatro anos e a minha visão acerca deste universo tem variado, também em função das oscilações sentidas no próprio mercado. É apenas a minha reflexão acerca de um tema que não é nada fácil, mas que é urgente refletir acerca de. Há muitas variáveis a considerar, é preciso olhar a questão de diferentes ângulos e perspetivas e espero que a minha opinião não tenha sido demasiado obtusa e limitativa. 

E vocês? O que pensam acerca deste assunto? Como podemos, na vossa opinião, inverter este cenário?

25
Ago21

30. ódio semanal

mar

Sou só eu que abomino quartas-feiras? Ironicamente, nasci numa quarta-feira, mas não considero que seja, de todo, o meu dia da semana. Pelo contrário, é o dia que mais me custa, sinto-me encurralada entre os dois dias que já passaram e os dois que ainda faltam passar. 

É o dia do esforço mínimo. Olho-me ao espelho e pelo que vejo sei que não preciso de ir ao calendário confirmar que dia é. Por norma, é o dia em que invisto menos em arranjar-me. Visto sempre algo confortável, mas pouco elaborado e sofrido, poucos ou nenhuns acessórios e quase sempre cabelo preso. 

É o dia em que conto ainda mais os minutos para que a jornada de trabalho termine. Por exemplo, acabei de olhar para o relógio e percebi que ainda nem são 15h, o que é uma tristeza enorme, porque significa que faltam mais de 3h para ir embora. 

Enfim, há que aguentar! 

23
Ago21

24. back to black

mar

E cá estou eu, novamente. Ao fim de duas semanas, que voaram, estou de regresso ao meu gabinete, à empresa. Nesta hora que passou andei a ler todos os emails que recebi na minha ausência, a tentar compreender o que se passou e atualizar-me das novidades. 

É sempre estranha a sensação de regressar. As primeiras duas horas são de readaptação a um ambiente que, dentro de pouco tempo, se tornará a minha primeira casa, onde passo a maior parte dos dias. Liguei o computador e meu deus, parecia que já não usava um dispositivo tecnológico há séculos. O ecrã, que é bem maior do que o meu portátil, encheu-se de luz e informação, parecia que estava a ver um filme numa sala de cinema. 

Coloquei Natiruts a tocar, para inspirar boas energias, que é tudo aquilo que mais se deseja nestes primeiros dias. As férias foram muito boas para descansar e é agora, ao regressar, que confirmo que me desliguei totalmente. Estar fora daqui é muito bom. E embora não goste do meu trabalho, gosto de trabalhar.

Para o dia de hoje só peço serenidade. Calma e paz, que o resto a gente faz! 

20
Ago21

20. o sol que desponta tem que anoitecer

mar

E chegou o último dia de férias. Após duas semanas, chegou o fim, porque nada dura para sempre, como diz a música "a gente mal nasce e começa a morrer/ depois da chegada, vem sempre a partida". 

Chego ao fim das minhas férias com a sensação de que descansei e de que já estou longe do trabalho há muito tempo, o que significa que me consegui desligar por completo. Dormi, desliguei todos os despertadores, abusei do sofá, li, caminhei muito, ouvi muita música, estive com família e amigos, almocei cedo e tarde, aproveitei o sol, respirei ar puro, renovei as energias. Pelo meio ainda levei a segunda dose da vacina, tive direito a uma noite terrível, mas não há mal que para sempre dure e na manhã seguinte, já me senti eu novamente. 

Continuo sem vontade de regressar ao trabalho, mas já não sinto o cansaço e o aborrecimento que sentia aquando da ida de férias. O trabalho, esse, permanece um massacre, mas eu sinto-me novamente munida de forças e energia para me aguentar na batalha. 

Assim, para a semana, se tudo correr bem, lá regresso eu à velha rotina, às marmitas, ao despertador a tocar às 06h50, ao corre corre, à contagem decrescente pelas 18h e pelas sextas-feiras. E é este regresso ao movimento, à rotina quotidiana que torna as férias tão desejosas e apetecíveis. Por isso, foi muito bom parar para tornar a fazer-me ao caminho. 

05
Ago21

12. I can't get no satisfaction

mar

Estou a fazer uma travessia no deserto no que diz respeito ao meu trabalho. Ando a passar por uma fase de enorme desmotivação, em que todos os dias, quando toca o despertador, sinto que acordo mais cansada do que quando me deitei. A ideia de ir trabalhar e passar o meu dia fechada num escritório fazem com que me sinta drenada de qualquer energia, como se um muro de betão tivesse sido erguido à minha frente, entre mim e a minha motivação, e fosse impossível de furar, quebrar ou atravessar.

Sempre fui uma pessoa de manhãs. Por norma, acordo bem-disposta, cheia de energia e com vontade de conquistar o mundo. Por isso, quando me deparo com estes níveis tão baixos de vontade logo às 7h da manhã, percebo que algo não está bem. Tendo a atribuir este cansaço todo ao facto de ainda não ter ido de férias, de as poucas férias que gozei até à data de hoje terem sido para me dedicar a outros afazeres e responsabilidades e, como tal, não serviram para descansar.

No entanto, dentro de mim, naquele cantinho onde costuma esconder-se a verdade, sei que não é apenas por esse motivo que me sinto assim. Porque não me sinto apenas cansada. Sinto-me aborrecida, desinteressada e completamente desinvestida. Sou uma pessoa que gosta de aprender coisas novas, estou sempre a desafiar-me e a aprender alguma coisa. Tenho sede e fome de conhecimento e, por isso, por mais que goste de dominar as tarefas que tenho à minha responsabilidade, também gosto de me dedicar ao processo de aprender outras tantas. Gosto de por os neurónios em ação e no meu atual trabalho isso não acontece, é extremamente rotineiro e monótono.

O ambiente de trabalho, com exceção de um grupo de pessoas de quem gosto muito e se tornaram amigas, também não é o melhor. Não que os meus colegas não sejam boas pessoas, mas o ambiente da empresa estimula o medo, o estado de alerta e, com isso, torna-se difícil um clima de paz. Assim, todos os dias, quando ponho o pé nas escadas de acesso ao meu gabinete, respiro fundo e penso "o que será que vou encontrar hoje?". Muitas vezes, aliás, quase sempre, os problemas que assisto são apenas isso, problemas dos quais sou observadora, mas não é por não ser na minha pele que não me arrepio na mesma. Nesta empresa o provérbio "nas costas dos outros vejo as minhas" tornou-se um lema e todos os dias o comprovo.

Além deste ambiente, assisto todos os dias a atitudes que espelham a falta de reconhecimento e valorização. Estou cansada de dizer que valorização não é apenas e somente o salário que se leva ao final do mês para casa. É sentir que o nosso trabalho é reconhecido, é obter feedback (tanto negativo como positivo), é ver a nossa vida além trabalho ser respeitada, é ser tratado com respeito e dignidade. Estou numa posição a que costumo chamar o lugar do morto, porque é aquele tipo de trabalho que é o chamado trabalho invisível. Dá muito trabalho, mas só se apercebe disso quando não aparece feito. Como tal, é frequente ver pessoas com menos responsabilidade ou menos tempo de casa, mas que são mais "choronas", a ter mais reconhecimento. E a parte que mais me impressiona nisto é que não me afeta. Não me tira o sono, não me agita o batimento cardíaco, não me deixa nem uma pontinha enraivecida. E isso não é normal em mim, que sinto tudo à flor da pele. Mas torna-se natural quando não estou investida, quando as coisas não me dizem nada e são distantes. É por isso que vejo diariamente vários tipos de injustiças, que me poderiam fazer sentir descontente ou zangada, mas não me alcançam. Não quero saber, estou nem aí (sim, remember para a Luca e o seu grande hit). Esta atitude, ou falta dela, mostra-me o quão desinteressada estou neste trabalho e empresa. Já não tenho sequer paciência, pachorra ou energia para me importar e ofender.

Apesar de tudo isto, sinto que continuo a fazer bem o meu trabalho, porque o faço por mim, pelo meu sentido de responsabilidade e pelo sentido de missão que coloco em tudo onde estou presente. Não o faço pelos meus patrões, não o faço para que me passem a mão pela cabeça ou me digam "bom trabalho", porque já aceitei há muito tempo que isso nunca acontecerá. Faço o meu melhor porque só assim me faz sentido. 

Sei que permaneço neste emprego por conforto e comodidade. Porque recebo bem, estou perto de casa, conquistei o meu lugar e tenho um grupo de amigas que fazem com que os dias cá dentro se tornem suportáveis. Mudar nesta altura do campeonato, num contexto pandémico, onde nada é seguro, não me parece viável nem sensato. Então vou aguentando, dia após dia, sempre com o olho nas 18h, nas sextas-feiras e nas férias. 

O que me entristece é que o tempo passa muito rápido e, num piscar de olhos, passaram 3 anos e eu cá continuo. Entrei nesta empresa uma menina e hoje vejo-me mais velha, madura, mais próxima dos 30 do que dos 20 e sinto que estou a desperdiçar a minha vida cá dentro. Estou a deitar fora o meu potencial, a contentar-me com algo que não me realiza nem faz feliz pelo conforto de ter um salário gordinho. Questiono-me muitas vezes se valerá a pena abdicar de tanto por esse conforto. Mas depois rapidamente me abano e digo a mim mesma que este trabalho é uma bênção, que deveria focar-me mais nos aspetos positivos, que deveria sentir-me grata e que na vida não podemos ter tudo. Tenho este diálogo comigo mesma diversas vezes ao dia e há dias em que tudo flui e me é fácil acalmar esta tempestade interna. Mas depois existem outros, que me fazem confrontar com esta insatisfação e me mostram a minha falta de audácia e coragem para mudar algo que não está bem. Chega a ser esquizofrénico o jogo de pensamentos contraditórios a que me entrego para conseguir aguentar mais um pouco. 

O meu caso não é único, antes fosse. Sei que, tal como eu, muitas pessoas se levantam todos os dias para irem para um emprego que não é o seu sonho, que há empregos muito piores do que o meu, que existem pessoas que dariam tudo para terem um emprego. Mas, perdoem-me, isso não minimiza a sensação de estar a ver a vida passar diante dos nossos olhos e pensar que este cenário não tem nenhuma semelhança com aquele que idealizamos para nós mesmos. E não me interpretem mal: eu nunca fantasiei com nenhum emprego em particular ou um determinado estilo de vida. Nos diversos planos que fiz para mim, nas mil e quinhentas ideias que tracei, existia apenas uma variável constante: eu sentia-me realizada e feliz. Uma felicidade que não é aquela felicidade absurda, de sentir que todas as células se desfazem em sorrisos e que tenho um fogo de artifício prestes a explodir dentro de mim. Em vez disso, uma felicidade serena, de alguém que acorda todos os dias com uma missão, um propósito, que passa os dias a realizar-se e que pode chegar ao final de uma jornada de trabalho e sentir-se bem consigo mesma. 

Cada vez mais olho para o tempo como a relíquia mais valiosa que possuímos. Nada substitui o tempo, nada o compra, nada tem mais valor. Confrontar-me com a realidade de que desperdiço o meu tempo, que é tão frágil, veloz e precioso, num lugar que não me acrescenta, que não me realiza, que me cansa, drena e satura, é difícil. Sinto que estou a deixar a vida fugir-me pelas mãos. Observo este cenário e estou paralisada, a deixar que aconteça, sem fazer nada para o inverter. 

Provavelmente esta é apenas mais uma fase, no meio de tantas outras. Pode ser o retrato perfeito de alguém que precisa urgentemente de ir de férias. Ou pode ser tudo isso mais a consciência plena de que está na hora de agir, de me mexer e fazer à vida. Não sei. Talvez daqui a duas semanas a tempestade tenha passado e venha a bonança. Talvez venha a acalmia, a serenidade ou a certeza, a confiança, a coragem. Uma coisa é certa: tanto ficar como ir são decisões. São escolhas, têm consequências, têm implicações. E não escolher é, em si mesmo, uma escolha. 

03
Ago21

10. final countdown

mar

Estou em contagem decrescente para as férias e cada dia desta semana parece que custa dez vezes mais do que o habitual. Este ano sinto-me especialmente cansada, mais do que desejosa, estou ansiosa pelas férias. Sinto-me saturada da rotina, de todos os dias o despertador tocar à mesma hora, ser a mesma correria, andar sempre com lancheira de um lado para o outro, chegar a casa ao final do dia e sentir que o tempo não chega para fazer tudo que quero, andar sempre em contra relógio. E, depois, o trabalho em si. Não faço aquilo que gosto, nem o faço num ambiente que gosto, mas preciso deste trabalho para conseguir fazer muitas outras coisas de que gosto. 

Não vou viajar, este ano decidimos que ficaríamos por cá, a desfrutar da nossa nova casa e a descansar. Quero dedicar-me a coisas tão simples como acordar sem despertador, tomar o pequeno-almoço descontraída, caminhar junto à praia e ler todos os livros que estão pendentes. Quero estar com os meus amigos e a minha família, quero passear, dormir sestas, experimentar um ou dois restaurantes novos, andar ao ar livre. Não ter horários e sentir-me liberta de qualquer responsabilidade. 

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