“You can’t re-create the first time you promise to love someone or the first time you feel loved by another. You cannot relive the sensation of fear, admiration, self-consciousness, passion, and desire all mixed into one because it never happens twice. You chase it like the first high for the rest of your life. It doesn’t mean you can’t love another or move on; it just means that the one spontaneous moment, the split second that you took the leap, when your heart was racing and your mind was muddled with What ifs?—that moment—will never happen the same way again. It will never feel as intense as the first time. At least, that’s the way I remember it. That’s why my mother always said we memorialize our past. Everything seems better in a memory.”
“The present is our own. The right-this-second, the here-and-now, this moment before the next, is ours for the taking. It’s the only free gift the universe has to offer. The past doesn’t belong to us anymore, and the future is just a fantasy, never guaranteed. But the present is ours to own. The only way we can realize that fantasy is if we embrace the now.”
“And in that moment, you realize how little control you have over your own destiny. From the time you're born, you have no control; you can't choose your parents, and, unless you're suicidal, you can't choose your death. The only thing you can do is choose the person you love, be kind to others, and make your brutally short stint on earth as pleasant as possible.”
“Poetry is just evidence of life. If your life is burning well, poetry is just the ash.”
“human element about this place can make you fall in love and break your heart at the same time. When you hear her sound, when you breathe in her scent, you share it with all the people walking beside you on the street, in the subway, or gazing from a tall building across Central Park. You know at once that you are alive, and that life is beautiful, precious, and fleeting.”
Estou a ler (e a amar) o Before We Were Strangers da Renée Carlino, escritora que estou a conhecer pela primeira vez e, até agora, me tem surpreendido muito pela positiva. Estou completamente envolvida e absorvida nesta história e, como sempre, nas personagens. Acho que para mim o elemento que me faz apaixonar são sempre as personagens, as suas características, os seus percursos, as relações que criam entre si e o modo como se desenvolvem e transformam. Duas personagens bem construídas (muitas vezes até apenas uma!), fazem um livro, como Before We Were Strangers tão bem ilustra.
Em Grace, uma das protagonistas, encontro muito de mim, de várias versões do meu "eu". Algumas mais recentes, outras passadas, mas é curioso como esta personagem parece uma compilação dos diferentes traços da minha pessoa ao longo destes 27 anos de vida. Desde as coisas simples, como amar Jeff Buckley (Lover, You Should've Come Over é a minha música favorita de todo o sempre, não há hipótese, sempre que os primeiros acordes começam, o meu coração contraí com mais força e tudo em mim paralisa), às mais complexas e imperfeitas como a dificuldade em ser vulnerável, em dizer aquilo que vai dentro de mim e a ânsia de querer sempre controlar o modo como as coisas vão acontecer.
Mas não é apenas Grace que me faz olhar ao espelho; é também a relação que cria com Matt, que me faz, inevitavelmente, viajar aos primeiros anos da minha relação. Aquela intensidade, a descoberta de um amor maior, gigante, que parecia ser demasiado para ocupar os limites do meu corpo e, como tal, transbordava, deixando um rasto por onde quer que eu passasse. O modo como me entreguei, como deixei a vida fluir, como peguei no meu coração, embrulhei e o ofereci ao meu namorado, sempre com medo que ele o fosse quebrar mas, ao mesmo tempo, confiante de que estava entregue nas mãos de alguém que olhava para mim como se eu fosse o sol, o mar, o céu azul e a natureza toda no seu esplendor mais bonito.
A relação de Grace e Matt não é perfeita, assim como nenhuma alguma vez é, e as suas imperfeições relembram-me as nossas, por serem tão semelhantes. A dificuldade que sempre senti em abrir-me por completo e permitir-me ser vulnerável, expressar aquilo que me doía, o que não gostava e o meu namorado, do outro lado, sempre num exercício de paciência e resiliência, a tentar interpretar os meus silêncios e arrancar-me as palavras, em intermináveis jogos do sério, a ver quem cedia primeiro. O que esteve em causa nunca foi a confiança nele, mas sim a confiança em mim mesma e no meu valor enquanto pessoa. O acreditar, ainda que erradamente, de não ter direito a sentir determinados sentimentos; a censura de alguns pensamentos e a proibição de sentir e pensar tudo aquilo que poderia por em causa o sentimento dele por mim, acreditando que ao ver o meu lado mau, o bom não seria suficiente para compensar e, inevitavelmente, tudo quebraria.
Mas só podemos amar alguém quando aceitamos tudo acerca de si, seja o bom, seja o mau. E isso é válido quando falamos acerca do amor que sentimos pelo outro, mas também pelo que sentimos por nós próprios. Quando temos liberdade para nos expressarmos e sermos quem somos, quando o outro nos permite esse espaço, nos respeita incondicionalmente nesse esforço contínuo de nos pormos no mundo tal e qual como somos, sabemos que é amor. E foi isso que nos aconteceu. Ele ensinou-me a dar pequenos passos em direção à aceitação, fez-me compreender que não ia a lado nenhum por eu ser quem sou e que esse núcleo, cheio de coisas boas e imperfeições, é o que o faz ficar bem perto e junto de mim. Eu alimentei-me dessa verdade e fui despindo todas as camadas que outrora construí, até que no final fiquei eu, apenas eu, exposta e vulnerável, com tudo aquilo que sou e trago comigo. E ele viu, apreciou, abraçou-me num daqueles abraços que valem mais do que mil palavras e que têm o poder de dizer tudo, sem ser necessário proferir um som ou verbalizar uma palavra.
E é tudo isto que encontro quando me perco na leitura da história de Grace e Matt. Os seus encontros e desencontros, o modo como, por vezes, a vida se intromete no caminho, mas como aquilo que tem de ser encontra sempre o seu rumo. Como o amor nos transforma, nos fortalece e nos faz acreditar que tudo é possível.
Ainda não terminei e estou naquele sentimento ambivalente, alternando entre o desejo e a ânsia de ler o livro até ao fim e a calma e prazer de saboreá-lo, aproveitando ao máximo estas personagens, a quem me vai custar dizer adeus. Estou a torcer, a rezar mesmo, para que este livro não me parta o coração. E, nos entretantos, perco-me a ouvir Jeff Buckley, sabendo que não tornarei a ouvir uma canção sua sem pensar nesta história ... e, inevitavelmente, na minha, nossa.
Sometimes a man gets carried away, When he feels like he should be having his fun Much too blind to see the damage he's done Sometimes a man must awake to find that, really, He has no-one...
So I'll wait for you... And I'll burn Will I ever see your sweet return? Oh, will I ever learn? Oh, Lover, you should've come over 'Cause it's not too late.
Hoje é o dia mundial da gratidão. Não fazia a mais pequena ideia, fiquei a saber por um daqueles emails publicitários que recebo diariamente com ofertas e promoções. Mas é maravilhoso existir este dia que nos relembra, mais uma vez (porque nunca é demais), da importância de contar as nossas bênçãos e de nos sentirmos gratos. A gratidão não precisa de ser pelas coisas gigantes e dantescas; muito pelo contrário, podemos encontrá-la perto das coisas simples, pequenas, por vezes tão pequenas que até nos passam despercebidas e só damos pela sua falta quando desaparecem.
Este é um dos meus sentimentos favoritos, tenho de confessar. Adoro quando sou invadida por este sentimento, porque normalmente não vem só. Faz-se acompanhar pela felicidade, alegria, plenitude. Adoro ser apanhada desprevenida por esta sensação de agradecimento, de estar a meio do meu dia ou de uma tarefa qualquer e sentir-me simplesmente grata por cá estar. Ou por ter pessoas boas na minha vida. Ou por ter um corpo que me permite desfrutar da experiência que é viver. Ou por ver o nascer do sol. Ou por ouvir os passarinhos a chilrear na janela do quarto. Ou por ler um bom livro e ser incapaz de o pousar até chegar ao final. Ou por beber uma boa chávena de chá e sentir-me acolhida. Ou por ser capaz de ultrapassar um desafio. Ou por sorrir e receber um sorriso de volta. Ou por ouvir uma boa música. Ou por acordar de manhã numa cama confortável, quente e ter o amor da minha vida ao meu lado.
É fácil encontrar motivos que nos façam sentir agradecidos; o que é mais difícil é lembrarmo-nos de os procurar diariamente. Nunca me esqueço de uma frase, que creio ser da autoria da Oprah Winfrey:
"Be thankful for what you have; you'll end up having more. If you concentrate on what you don't have, you will never, ever have enough".
E faz todo o sentido. Porque, como diz a Colleen Hoover, às vezes não é sobre ver o copo meio cheio ou meio vazio, mas sim simplesmente estar-se grato por se ter um copo.
Está uma tarde de chuva e eu, por muito estranho que possa parecer, adoro. Adoro que o outono se comece a instalar aos bocadinhos, os dias já se notam mais curtos, as noites já são frias. Sei que este ano o verão foi atípico, na minha zona praticamente não o sentimos, mas já se começa a notar a sua despedida.
E eu adoro. Não tenho uma estação preferida, gosto de todas e o que mais adoro é a passagem de umas para as outras. Adoro assistir à renovação da natureza e ao modo perfeito como tudo se desenrola, num ritmo tão sincronizado e certo. Adoro quando os dias começam a ficar mais curtos do mesmo modo que adoro quando estes começam a crescer e parecem infinitos. Adoro as folhas laranjas, vermelhas e castanhas como adoro quando as árvores se começam a vestir novamente de verde. Adoro os dias quentes de verão, em que o sol se torna insuportável, e os dias frios de inverno, em que mais uma camada de roupa faz sempre falta. Adoro as noites frias, os lençóis polares, os pijamas quentinhos, o dormir com três pares de meias do mesmo modo que adoro os vestidos leves, o sair de casa à noite sem precisar de casaco. Adoro as flores na primavera, os campos cheios de vida e, depois, o recolher e renovar aquando do inverno.
Por isso, enquanto olho lá para fora e vejo a chuva a cair, constante, numa cadência perfeita, e percebo que estamos a entrar numa nova estação, não consigo evitar sentir-me feliz. É uma sensação calorosa, de conforto, de acolhimento. É perfeita para esta sexta-feira tão desejada :)
Dias menos bons todos os temos, hoje é a minha vez. Não me sinto mal humorada nem zangada com o mundo; apenas me sinto triste. Estão a acontecer muitas coisas na minha vida, com as pessoas que mais gosto. E apesar de a minha atitude ser, por norma, focada nas soluções e "para frente é que é o caminho", quando me permito desacelerar, encontro-me com a tristeza de as coisas serem como são e não como eu gostaria que elas fossem.
Nas consultas, digo muitas vezes aos meus clientes que parar faz parte da viagem. Ajuda-nos a reestabelecer, a reunir energias novas, a definir o rumo e equacionar possíveis novas trajetórias. Costumo dizer-lhes que o importante não é chegar rápido, mas sim chegar longe. E agora sou eu que estou parada, a meio da minha viagem, a ganhar fôlego para continuar a minha caminhada. Esta tristeza abranda-me, imprime um ritmo mais lento, torno-me mais observadora do que participante, como se visse tudo de uma outra perspetiva.
E embora não goste de me sentir assim (creio que ainda não conheci ninguém que gostasse de se sentir triste), sei que é necessário dar espaço e tempo a esta emoção. Preciso de sentir esta tristeza que marca o início de uma nova etapa, um capítulo que termina e outro que se inicia. É preciso chorar a dor, acarinha-la, permita-la existir e ser. Esta letargia serve precisamente para acolher a minha tristeza e dar-lhe o colo que necessita.
Nem sempre é fácil não resistir às emoções negativas. Creio que não somos instruídos a aceitar a tristeza com a mesma naturalidade que aceitamos a alegria. A dor, o sofrimento, a raiva, a desilusão, o medo são sentimentos aos quais viramos, muitas vezes, as costas na esperança de que quando nos tornarmos a voltar, eles já não estejam lá. Mas eles não vão a lado nenhum enquanto não os abraçarmos e permitirmos.
Por isso, hoje é um dia menos bom e eu aceito-o. Não me esforço para que seja de outra forma, porque se há dias em que se deve investir em contrariar o mau génio, há outros em que é necessário liberta-lo. Hoje é um desses dias. E está tudo bem.
Andei muito tempo a adiar a leitura do Without Merit da Colleen Hoover (em português, A Ilusão de Merit). Parece estranho, sendo eu uma leitora compulsiva assumida de tudo que a Colleen escreve, mas a verdade é que este livro nunca me despertou interesse. Primeiro, pelo nome; segundo, pela capa; e, por último, pela sinopse estranha e confusa. Não me cativou também o facto de ter lido reviews no GoodReads e este ser um dos poucos livros da Colleen com menos pontuação e menos críticas positivas.
Demorei muito tempo a adquiri-lo e admito que quando o fiz, fi-lo por duas razões muito elementares: 1º, porque estava em promoção e 2º, porque tenho um lugar na minha biblioteca reservado para Hoover e, como tal, tenciono ter todos os livros por si escritos. Mas entre comprar e começar a lê-lo, passaram-se meses. Ainda coloquei o livro na mesinha de cabeceira, para ver se a coisa se dava, mas surgia sempre um interesse maior e depois uma coleção e o livro foi ficando, a acumular pó, à espera.
No sábado à noite, depois de terminar de ler Franco, o último livro da coleção Bright Side, de Kim Holden, decidi que estava na hora de pegar na llusão de Merit e dar-lhe uma oportunidade. Comecei no domingo e terminei hoje de manhã o último capítulo. Confesso que à medida que ia lendo, pensei para comigo mesma diversas vezes "mas porquê que eu resisti tanto a este livro?". Porque se revelou uma boa surpresa.
Não posso dizer que me deixou arrebatada ou que foi o melhor livro da Colleen que já li. Mas cativou-me ao ponto de estar no trabalho e pensar, por mais que uma vez, que só me apetecia chegar a casa e ler um pouco mais. Descobrir mais acerca de Merit e da história da família Voss, que é tão estranha, excêntrica e única, que me prendeu desde as primeiras páginas.
Colleen atacou e ganhou novamente, porque é uma excelente contadora de histórias. As suas personagens e as relações que estabelecem entre si têm sempre o poder de nos envolver e cativar, de nos deixar sedentos de as conhecer melhor e as acompanhar. Gostei muito do modo como Colleen construiu, desconstruiu e tornou a construir a personagem de Merit, assim como as restantes da sua família. A dinâmica familiar estranha, até mesmo absurda, que nos faz concluir que não existem famílias perfeitas, que todos trazemos muito mais dentro de nós do que aquilo que permitimos que os outros vejam e que somos muito mais complexos, profundos e incoerentes do que aquilo que gostaríamos de ser. Gostei do modo como a saúde mental é abordada e como um episódio dramático conseguiu ser redentor e revolucionar a vida de todos os elementos da família; gostei, particularmente, da forma como a explosão de Merit reforça a ideia de que a comunicação, aberta e honesta, nos leva sempre mais longe e nos aproxima mais uns dos outros. Fez-me lembrar, nem a propósito, do meu desabafo de ontem.
Pelo meio, ficam diálogos muito bonitos, reflexivos e outros incrivelmente cómicos, que tornaram esta leitura tão boa e confirmaram a minha paixão literária imensa por esta escritora. Aconselho vivamente a leitura, desta vez li em português, mas acredito que a versão original valha muito a pena (não desfazendo a portuguesa, que também está muito boa!). Ah, e já agora, depois de ler, o título, que inicialmente me causou estranheza, passou a fazer todo o sentido
Eu gostava de conseguir dizer tudo aquilo que trago dentro de mim, mas sei que as palavras são como as cartas, depois de batidas não podem ser recolhidas. No outro dia escrevi sobre a falta de sensibilidade e o modo como a honestidade, sem cautela, pode ferir. Escrevi sobre a importância de estudar bem aquilo que se vai dizer, de se pensar antes de falar. Nesse texto foquei-me naqueles que são brutos, inconvenientes, que falam primeiro e pensam depois. Naqueles que para expressarem a sua verdade não olham a meios nem pensam que a sua verdade é apenas a sua e não a de todos; que pode magoar; que pode não ser necessária, sobretudo quando nem sequer é solicitada. Mas esqueci-me de vos falar acerca dos outros, daqueles que, precisamente por estudarem muito bem todos os "se's", se inibem de falar. E se calam, engolindo em seco, mantendo a sua honestidade presa no pensamento. Estarão mais corretos do que os primeiros? Sinceramente, não sei. Eu, que faço parte do segundo grupo, começo a olhar para a questão de outra perspetiva. A visão de alguém que está cansada de ser a conciliadora, a que apazigua os ânimos e procura sempre a harmonia. Porque é bom ser a pessoa que ergue a bandeira branca da paz e tréguas, mas é profundamente injusto esse papel sobrar sempre para os mesmos. O que eu tenho sentido é isso mesmo: injustiça. E revolta. Às vezes apetece-me gritar e comportar-me como os outros, que falam com toda a certeza do mundo. Apetece-me ser insensata, apetece-me bater o pé e esperar que o outro ceda e se renda. Apetece-me ser honesta, doa a quem doer, e dizer tudo aquilo que acho, sem pensar nas consequências. Por uma vez na vida, gostava de me comportar de forma inconsequente e impulsiva. Para ver o que aconteceria e experimentar essa sensação única.
Como partilhei anteriormente, esta procura de paz esconde muitas vezes uma dificuldade de afirmação e definição de limites. No outro dia, uma amiga com quem vivi na universidade partilhava uma atitude que eu tinha tido quando moramos juntas em relação a um terceiro companheiro de casa, que andava sempre a protelar a realização das tarefas domésticas até que foi encostado à parede (metaforicamente, está claro!) por mim e começou a fazer a sua devida parte. Depois de a ouvir contar esta história, só consegui questionar "fui mesmo eu que fiz isso?". Parecia-me que estava a falar de uma outra pessoa e não de mim, não me reconheci naquela atitude, com muita pena minha. Porque tenho saudades de ser essa pessoa afirmativa e assertiva que sabe dizer as coisas e não deixa nada pendente. Ao longo do tempo, não posso deixar de notar que me tornei mansa, delicada a um ponto que tenho tanto receio de ferir suscetibilidades que ando com as pessoas ao colo como se fossem de vidro e fossem quebrar ao mínimo comentário.
Acredito com convicção que espelhamos nos outros aquilo que vai dentro de nós; que esta preocupação em magoar os outros reflete o meu medo em sair magoada e, mais profundamente, evidencia a minha necessidade de agradar e dificuldade em acreditar que as pessoas podem gostar de mim pelo que sou na íntegra e não apenas quando sorrio e aceno. Não sei precisar o momento em que esta estratégia me foi útil e começou a fazer parte do meu reportório comportamental, mas sei que se cristalizou de tal modo que só poderá ter ocorrido numa situação e contexto em que foi altamente importante para a minha sobrevivência emocional (*inserir tom dramático*).
Isto só me torna ainda mais curiosa (e um bocadinho invejosa, em alguns momentos) em relação às pessoas que dizem aquilo que pensam, doa a quem doer. Acredito que deverá ser uma sensação de liberdade imensa e de homeostasia plena. Para mim, normalmente, o equilíbrio obtém-se quando existe paz exterior, mas existem exceções e é por essas que comecei a escrever este desabafo. É sobre as situações em que engolir em seco, respirar fundo até 1000, e pensar muito antes de falar se torna asfixiante e revoltante. É sobre os momentos em que a paz interna não se alimenta apenas da harmonia em redor e precisa de mais. Precisa de catarse, de movimento e liberdade. Precisa até de provocar reação no outro, por mais triste que possa ser dizê-lo. Mas precisa de causar impacto, de fazer os outros compreender, nem que seja à força, que existem mais perspetivas e posições do que as suas. É sobre os momentos em que me apetece gritar e dizer tudo o que penso, sem filtros, sem cuidados, sem pensar nas consequências.
Nesta fase que me encontro a viver, não faltam oportunidades para sentir esta asfixia. Com várias pessoas e diversas situações. Tenho guardado tudo para mim, optando pelo silêncio ou pela retirada. Chego mesmo a afastar-me para respirar e focar-me noutros estímulos. Ando a encher, a acumular e começo a sentir os sinais acusatórios de pressão. A irritabilidade crescente, a respiração curta alternada com profunda, o revirar de olhos abismal que me faz temer que os olhos não retomem a sua posição base. E esta inquietação, este formigueiro que me percorre o corpo quando estou perto de gritar e dizer tudo o que penso. Estou à beira do precipício da assertividade, ou, pensando melhor, da agressividade. Do 8 para o 80, da passividade mansa para a agressividade que leva tudo à frente.
Por isso, escrevo. Para organizar estes pensamentos e refrear estas emoções. Para, mais uma vez, colocar tudo em perspetiva. Para gritar através da palavra escrita, a minha forma preferida de expressão. Para libertar tudo que trago dentro de mim. É o que a escrita representa para mim, desde sempre. Sei que não é suficiente e que, como Jung tão bem disse, o que resiste, persiste. Mas, para já, é tudo que tenho e é o único lugar onde não me censuro e me permito tudo.
Gosto, genuinamente, de ser mais harmonia do que conflito; de apaziguar em vez de complicar. Não mudaria a minha forma de ser, não considero que seja incorreta. Mas mudaria o modo como a expresso, porque me torna vulnerável e um cordeiro em terra de lobos.
Está a ser uma segunda-feira difícil. Primeiro, acordei com o despertador e numa névoa mental de tal forma que, nos primeiros instantes, não percebi que já era segunda-feira. O meu cérebro demorou algum tempo a processar a dura realidade de que o fim de semana já tinha terminado.
Depois, estou com uma dor de cabeça chata, aquelas que moem e moem. O mais certo é ser da rinite, porque me dói o nariz também e, para minha infelicidade, não tenho o meu comprimido S.O.S para estas crises. E todas as tarefas que tenho para fazer são uma autêntica seca, só me fazem sentir mais sonolenta. Sinto-me tão aborrecida. E reparei agora que está a chover torrencialmente e eu não trouxe guarda-chuva. Palmas para mim!
Estou a contar os segundos para as 18h00, mal posso esperar para sair daqui e respirar ar puro. Só me apetece chegar a casa e entregar-me ao sofá. Nem sei porquê que estou a escrever isto, odeio ser a pessoa que se queixa e não só é o que estou a fazer, como estou a partilhar na internet para que as minhas lamurias cheguem a mais gente. Espero, de coração, que não se deixem contagiar pelo meu aborrecimento e que estejam a ter um início de semana mais entusiasmante que o meu. Eu que até gosto de segundas-feiras, costumo dizer que não é o início da semana que me custa, mas sim o seu término, porque me sinto sempre cansada e a arrastar. Agora ... se este é o começo, imaginem o que me espera o resto da semana!
Encontrei uma pasta na minha google drive com todas as fotografias dos tempos da escola básica e secundário. Provavelmente deverei ter criado esta pasta como um backup e nunca mais me lembrei dela, até esta semana ter tropeçado nela e me ter deliciado a rever verdadeiros tesourinhos e reviver momentos que fazem parte dos melhores anos da minha vida.
É tão giro ver estas fotos e comparar aquela fase da minha vida com a atual. O grupo de amigos manteve-se, apesar de algumas entradas e saídas, somos o mesmo núcleo duro. Fomos para a universidade, formamo-nos, uns regressaram à terrinha, outros aventuraram-se noutras cidades e há quem, ainda, se tenha aventurado pelo mundo. Uns já casaram, outros vão casar, uns vivem com os pais, outros já vivem com os/as namorados/as. Uns ainda estão à procura de trabalho, outros estão a construir uma carreira sólida e outros, ainda, mudaram de rumo e estão a começar tudo do zero. Mudamos de estilo, de rosto e corpo, de corte de cabelo e penteado, mas mantemos todos a nossa essência. Estamos mais crescidos, mais adultos, mas continuamos a ser uns idiotas felizes quando estamos todos juntos, sempre a gozar uns com os outros e a fazer parvoíces.
Ao ver estas fotos é inevitável refletir como o tempo passa tão depressa e como, neste processo, vamos ganhando tanta densidade. Quando me vejo aos 17 anos, encontro tanta descontração e leveza, quem me dera voltar, nem que por meros segundos, a essa sensação de que o mundo está todo por descobrir e eu não carrego peso nenhum em cima dos ombros. Não levava nada na bagagem a não ser sonhos, fantasias e desejos.
Hoje, dez anos depois, sinto que me tornei demasiado séria, controlada e controladora. Há pouco espaço para a espontaneidade, tudo tem de ser encaixado num horário, numa agenda. Tudo tem de ser pensado e calculado, o tempo já não é inteiramente meu. Há demasiada pressa e urgência em tudo, estou sempre a correr em contra relógio, canso-me mais facilmente e aproveito muito menos.
É certo que adquirimos experiência e sabedoria. E que o tempo tem de seguir e poder seguir com ele é uma bênção, sempre, a cada dia, todos os dias. Mas não posso negar: fiquei com saudades destes tempos leves e livres, em que passávamos os dias todos juntos, sempre a rir, sempre descontraídos. Levávamos a sério o que era estritamente necessário e, tudo o resto, fluía.
Por vezes, perto de minha casa, vejo um grupo de miúdos a andar de bicicleta, a rirem-se, a mandarem piadas uns aos outros, morenos de passarem o dia todo na praia, e não consigo não sorrir. Estão a aproveitar uma das melhores fases da vida e isso é maravilhoso. E ao vê-los só consigo pensar que preciso de deixar a vida fluir mais e me deixar levar ao seu sabor, ao seu ritmo.
Aproveitar mais as pessoas, a natureza, parar para ver o nascer e o pôr do sol, ouvir as ondas do mar, os pássaros. Comer com calma e saborear cada dentada; ouvir música com coração e alma; conversar e rir com toda a energia.
Na minha secretária tenho um post-it, colado no computador, que diz "The purpose of life is to enjoy every moment", para me relembrar da importância de viver todos os momentos. De estar presente. De estar aqui, aberta à experiência e aproveitar, desfrutar, saborear a delícia que é a vida.